segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Verde, amarelo, e vermelho
A haste com a bandeira
Brasileira ensangüentada
Por nada, por nada.
Pela terra molhada
O sangue infiltrado
No núcleo vermelho
O amor incondicionado

O pranto frio
O suor quente
O amor divinizado
O caminho sondado
O vestido de mil dobras
Flutuando no vasto rio urbano

Populações aterrorizadas
Populações admirando
Chove-se lama gelada
Enlameando florestas
Face de mulheres amadas
E a leveza dos ares.

Céu, de verdes estrelas
Como é bela a pureza
Como é vasta a cegueira
Dos tons desafinados dentro das gargantas
Que descem pela traquéia
Até os alvéolos.

Onde está a harmonia dos pássaros
Que jorram beleza
E despejam folhas pelos ares das montanhas?
Que encobrem os rastros de cruéis cangaceiros
Atrás de encobrirem suas dores
Infincando balas nos telencéfalos altamente desenvolvidos.
Mensurando a garantia da morte impulsiva.

Pode ser que o vento me chame ao relento
Num tempo de milagres
Onde o vento é meu rei e minha senda
Que me voa pelo mistério
Até alcançar a estrela Ponto de interrogação.
Mistério que pode até me levar ao misterioso
Mistério que pode me levar ao entediante
Mas mistério que imagino me glorificar
E me realizar no incompreensível
Ou senão me distrair na beira do abismo e me descansar
Ao lado do esqueleto... Cabelos ruivos, pedras negras.
Se me fizessem um pedido de cair no desmedido, o que fica, o que me resta? De um pranto sem canto, de um soluço sem rima, um branco, um azul, uma cor cristalina, festas que transitam distantes, os encontros que encantam, as armas transcorrem sem ponta, estonteantes, e pronto. E o ponto, simples, desaparece, rumo ao norte, e a fácil tristeza me remete, despede-se do pranto, num canto, cheio de tanto, tanto de santo.

Se soubesses da noite de hoje
Se soubesses dos sonhos lá de cima
Se sonhasses com loucos e putas
Despertos em uma chacina
Saberia que é simples o amor.

Dia todo olho pro dia
Noite toda olho pro dia
Vejo dia dia dia, não dia, você não entendeu.
Noite dia, que noite fria.

Diga noite, onde me encontro?
Sou da tribo dos malabaristas?
Sou o camarim dos palhaços de rua?
Sou a lua no dia nublado?
Sou pra cá? Aqui desse lado?

Quando vejo o raio do lampejo
Te pego e te jogo
Te chupo te beijo
Te jogo pra cima
Escalo montanhas.
Pequena mulher
Que me ama e me trai
Sou o pico das estrelas.
Sou Cult?
Vai toma no Cult!
Iogurte é gosto que me gusta.
É de morango que apaixono.
É num sono que sorrio em pranto.
E olho pra alegria
E é tanta, e leve como a manta.

Me sinto uma anta
Me sinto animal selvagem
Calo o meu rugido
Rolo na terra e a terra mastigo

Tiro poeira do meu umbigo
E digo:
Eu amo!
Pele de leão tingida de azul e negro
A mulata fingida veste em segredo
A névoa esbranquiçada já vem chegando
E outras folhas, outras navalhas, vem voando.
Um menino descansando embaixo do luar
Come fruta, vê a névoa e se paralisa.
Ahhh... Para onde vão as casas.
Ahhh... Destruídas pelas estradas.
Como pode um nevoeiro derrubar
As pedras do mundo inteiro desempedrar.
Como pode as ondas nos afogar.
Menino joga a semente para brotar.
Foge foge foge, vai transpira.
Foge foge foge, vai sufocar
Foge foge foge, vai tropeçar.
Foge foge foge, da calunia.

Nasce-se um poeta, é bonito e é um poeta!

O poeta consciente
Todo dominador da poesia
E da própria razão
Que conhecia filosofias milenares
Os valores mais nobres
E os rumos mais elevados que o destino poderia traçar
Cansou-se.

Razão, você não me serve mais!

E resolveu cantar palavras diversas
Se alegrando com os sons sem sentido
Adorou a forma como eles fluíam
E numa conversa com o vidro
Chegou a conclusões seriíssimas sobre a vida.

Deveria bisbilhotar os beija flores nos lindos bosques
Que tem mais vida e além de mais vida banquetes variados de saborosos polens.
Pois nessa presente fartura abelhas e beija-flores se saboreiam
E voam e se amam e se entrelaçam nos ares
E se beijam belissimamente no som da natureza e se picam!

O que?
É! Se picam.
Beija flor é traído
O beija cambaleia-se nos ares
Entonteado zigue-zagueia com a gravidade e tomba como numa tumba.

Corpo triste e sólido beijado na terra, abaixo de plantas floridas e zunidos homicidas, abaixo de árvores de grandes copas com grandes lúdicos troncos, abaixo de nuvens plurais em formas contempladas num lúdico céu degradê, num espaço lúdico geográfico, assim num continente existente em diversos atlas, cercado de oceanos de diversas ondas, vidas, e cores, existente em um planeta verde e azul, um sistema, uma negrez, singelamente colorida de astros, um universo cativante, escuro e misterioso...

Vocês viram um poeta por aí?

domingo, 29 de agosto de 2010

Confusão

Confusão

Confundiram os indiferentes com pacifistas
Confundiram sanidade com lucidez.
Confundiram loucura com insanidade
Confundiram tristeza com depressão
Confundiram remédio com solução
Remédio não é solução
Remédio remedia, remenda, não é solução!
E confundiram ócio com descanso no conforto, que desgraça.
Confundiram tesão com sexo
Confundiram sexo com selvageria
Confundiram arte com rotina
E confundiram a rotina com a vida!
Confundiram não com sim
Confundiram poder com opressão
Confundiram obediência com escravidão.
E confundiram escravidão com os escravos.
Confundiram o desejo com egoísmo.
E confundiram o egoísmo com um monte de coisas.
Confundiram a natureza como matéria-prima.
Confundiram a Terra com um planeta no mapa.
Confundiram o potencial com genialidade.
Confundiram os gênios como os escolhidos.
Confundiram o possível com o impossível.
E confundiram o impossível com o impossível.
Confundiram trabalho com trabalhoso.
Confundiram sentimentos com hormônios.
Confundiram pensamentos com sinapses.
Confundiram saúde com esporte.
Confundiram preguiça com contentamento.
Confundiram Deus com o diabo.
Confundiram o diabo com a paixão.
E confundiram o Amor, confundiram o Amor com carência e com o ódio mais profundo!
Matou por amor!
E confundiram o mais carente dos homens com aquele cobrador antipático.
Confundiram perdão com miséria.
Confundiram perdão com miséria.
Confundiram perdão com miséria.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu criança de encantos
Vibrando corações
Purificando ambientes
Libertando-os das sanções
Distribuo novas tonalidades às almas
Distribuo frutas saborosas à melancolia
Distribuo incensos diversos à inquietação
E uma mão criadora serena

Luz, que era branca, por luzir e reluzir
Foi-se colorindo pela desconfiança das cores
Ingenuamente deixou o branco, reluziu cada cor do espectro com até alegria
Das mais claras e límpidas até a escura como tal poluía
E em um sono tardio, o que era luz enegreceu.

Estrela oculta
De beleza em rasuras
Mesma no pico da abóboda celeste
Embelezou somente injúria
E ardeu em cada pulsar sob a aérea bruma
Como um adeus
Ardeu no ato de entrega
Ardeu à la Prometeu.

Para consolo, raridades surgem.
Um brilho acontece em um instante de sonho
Mas por ser instante, atiça só leve alegria
Alegria vazia, nada estonteante, esperança fria.

Desafios pesam nos aflitos
Dóceis e manipuladores
Insinuam outra qualquer coisa
Uma enérgica desesperança nas deidades

Criança abandonada
Procurando um coração a vibrar
Procurando um ambiente a purificar
Procurando sanções a libertar
Busca novas tonalidades nas almas
Morde frutas na melancolia
Acende gasto incenso na inquietação
Se imagina criação e sereniza.

Dorme criança, dorme, que a noite hoje se fez longa para teu descanso. Descanse.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Verdades tossidas

O conselheiro urbano
Inspira fumaça
Para profetizar soluções
A uma mentira inata

As gentis brisas frescas
Acalentam a solidão
Dos tristes sábios
Conhecedores dos céus

Beleza míope,
Onde está aquela nitidez do que se sente
Dentro dos corações moles
Que choram impacientes?

O profeta petrificado
Uiva verdades
A uma pálida lua
Estagnada no espaço

O profeta petrificado
Não sabe cantar
Nem se deliciar
Nem mesmo aprendeu a tristeza

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você é muito apressada, menina

As coisas acontecem no seu tempo.
A noite vai embora
E o sol que a um dia atrás nascera, nasce.
Então, os passarinhos acordam, se espreguiçãm e encantam a manhã, como no dia anterior.
E o galo rei, tomado de inveja, canta novamente.
E o caro senhor, homem trabalhador, desperta lentamente.
Assim a noite, assim o sol, assim os pássaros matinais, o galo rei e o caro senhor cumprem no seu tempo o que o Sábio Tempo pede para se cumprir.
Legítimos discipulos do Tempo vivem com firmamento, seguindo as ordens do movimento, seguem sem intento, mas compreendem a misteriosa mensagem do sopro.
Respire fundo!
Eu, crente em meu rosto.
Num ato de desespero
Faço caretas!
:P

Ele Me Deu Um Beijo Na Boca - Caetano Veloso

Ele Me Deu Um Beijo Na Boca Caetano Veloso
Ele me deu um beijo na boca e me disse
A vida é oca como a toca
De um bebê sem cabeça
E eu ri a beça
E ele: como uma toca de raposa bêbada
E eu disse: chega da sua conversa
De poça sem fundo
Eu sei que o mundo
É um fluxo sem leito
E e só no oco do seu peito
Que corre um rio
Mas ele concordou que a vida é boa
Embora seja apenas a coroa :
A cara é o vazio
E ele riu e riu e ria
E eu disse: Basta de filosofia
A mim me bastava que o prefeito desse um jeito
Na cidade da Bahia
Esse feito afetaria toda a gente da terra
E nós veríamos nascer uma paz quente
Os filhos da guerra fria
Seria um anticidente
Como uma rima
Desativando a trama daquela profecia
Que o Vicente me contou
Segundo a Astronomia
Que em Novembro do ano que inicia
Sete astros se alinharão em escorpião
Como só no dia da bomba de Hiroshima
E ele me olhou
De cima e disse assim pra mim
Delfim, Margareth Tatcher, Menahem Begin
Política é o fim
E a crítica que não toque na poesia
O Time Magazine quer dizer que os Rolling Stones
Já não cabem no mundo do Time Magazine
Mas eu digo (Ele disse)
Que o que já não cabe é o Time Magazine
No mundo dos Rollings Stones Forever Rockin´And Rolling
Por que forjar desprezo pelo vivos
E fomentar desejos reativos
Apaches, Punks, Existencialistas, Hippies, Beatniks
De todos os Tempos Univos
E eu disse sim, mas sim, mas não nem isso
Apenas alguns santos, se tantos, nos seus cantos
E sozinhos
Mas ele me falou: Você tá triste
Porque a tua dama te abandona
E você não resiste, Quando ela surge
Ela vem e instaura o seu cosmético caótico
Você começa olhar com olho gótico
De cristão legítimo
Mas eu sou preto, meu nego
Eu sei que isso não nega e até ativa
O velho ritmo mulato
E o leão ruge
O fato é que há um istmo
Entre meus Deus
E seus Deuses
Eu sou do clã do Djavan
Você é fã do Donato
E não nos interessa a tripe cristã
De Dilan Zimerman
E ele ainda diria mais
Mas a canção tem que acabar
E eu respondi:
O Deus que você sente é o deus dos santos:
A superfície iridescente da bola oca,
Meus deuses são cabeças de bebês sem touca
Era um momento sem medo e sem desejo
Ele me deu um beijo na boca
E eu correspondi àquele beijo
Setenta anos
E nem sequer um instante de perdão
Becos escuros infiltrados
Água suja nos ralos

Que divindade demostrará milagres?
Caminhadas lentas não emagrecem.
Uma ave escura voa.
Um negro peixe nada.

Um raio brilha do horizonte!
Entre as sobrancelhas ilumina.
Pernas bambas se ajoelham.
Peito estufado deságua.

Em um sonho lúdico
A sabedoria da noite
Desperta a reminiscência
Do mistério que permeia o momento

E acorda

Setenta anos
E nem sequer um instante de perdão
Becos sujos infiltrados
Água suja nos ralos.
As transformações mudam tonalidade.
Crueldade... eu te amo.
Meu coração te ama.
Quero seu abraço.

Pôr-do-sol
Vermelhidão que era infernal
São boxexas do menino
Acanhado nas asas maternas

Que linda você.
Que boca bonita.
Quero um beijo.
Venha cá.

Saia da beira da cama
Aqui é mais seguro.
Aqui eu te seguro.
Crueldade, é cá que a vida nos chama.

domingo, 8 de agosto de 2010

Lágrimas?

Não gosto de me demorar em caracterizações, mas vê-se um homem velho, de barba branca média, de passos leves, subir no ônibus, como de hábito, espera a sua vez de atravessar a roleta, como de hábito, o velho diz bom dia ao cobrador, como de hábito e atravessa a roleta, meio de lado , também como de hábito. Senta-se junto a janela, como nos dias de sorte, escora a cabeça no vidro e chora.

-Seria lágrimas tais dignas de um homem no auge da sapiência?
-Dignas? Só sei que são lágrimas... De perdão? De alívio? De sofrimento? De frustração? De desespero? De abandono? De alegria ou de tristeza? Não sei... Sei que são lágrimas...
-Não chores meu senhor.
-Mas esse é o destino das lágrimas, chorarem, por isso choro. Meus olhos se apertam e lágrimas rolam. São assim que elas funcionam, são lágrimas...
-Mas por que esse senhor chora?
-Não sei... Existe morte no percurso da vida, quando lágrimas são morte, quando lágrimas são medo de morte, não sei. Talvez excesso de vida também mata, talvez excesso de vida aumenta o medo da morte. Mas de tudo isso que digo, nada sei. Sei de minhas lágrimas que rolam...
-Essa vida é boa, meu senhor, acredite. Tenha fé, meu caro.
E o velho sentiu leve graça, pôs-se a olhar para a janela e ficou-se admirado com suas lágrimas no vidro intactas e encantado, com a ponta do dedo, pôs-se a desenhar um sorriso. Observou, apreciou, sorriu junto e desceu no ponto.

Cantos Devocionais

Além da rosa-dos-ventos as cigarras devotam uma canção, o cântico das murmurações. A noite acontece no momento em que escurece. As estrelas logo surgem uma a uma até alcançarem milhões. E a cheia lua brota do horizonte, brilho misterioso que atravessa o céu, traçando o seu destino.
A eternidade da bela noite é simplesmente a eternidade da bela noite, nada de místico nisso, mas tudo de eterno, tudo de belo e tudo de noite.
No quintal um latido! Forte e curto. Rugido vazio sem eternidade, sem beleza e sem noite, que eco nem se fez, e sumiu nas profundezas dos murmúrios ficando marcado apenas pelo próprio esquecimento.

Transcendência

E de muito anseio da alma, a Luz resplandeceu viva, iluminando as trevas, unificando a diversidade dos sombrios pensamentos em uma comunhão divina, que de tão serena e pura, rompeu o emaranhamento do egoísmo e transbordou-se em lágrimas de Infinita Alegria.
E o Alívio permeou toda a Natureza e a respiração de seca e rasa transformou-se em úmida... Simples e profunda...

Chuva Nostálgica

Como numa tarde fria, meu bem.
As ondas se quebram geladas.
Nos lares quentes e aconchegantes, fogão aceso, tv ligada.
Na praia, areia úmida, a chuva, o nada.

De resto... a saudade
Do sol que não quis raiar.
E a chuva que insisti em chover
E dissolver a certeza das lágrimas.

Essa chuva que chegou e anunciou a chegada do navio
O barqueiro insistia,
As malas iam sendo colocadas.
Aquele anel de lembrança só trazia a lembrança do não vivido.

Era tarde:
A chuva, o vento,
O anel, as malas,
O barqueiro, a agitação.

Rosto, cabelo gelado.
As malas iam sendo colocadas.
Anel e mãos geladas,
E um beijo de lábios também gelados.

O frio esfriava,
O vento soprava,
A chuva chovia e
O barco que deveria partir, partia

E a chuva insiste em chover...
Insiste...
Ela chove, molha, dissolve.
E insisti em chover.

Marechal José

Marechal José sobe marchando.
Marechal José canhão bombardeando.
Marechal José digna atrocidade.
Marechal José demolidor de cidade.

Marechal José de marcha estaca.
Marechal José marcha à tapa.
Marechal José animal selvagem.
Marechal José e o exército miragem.

Marechal José, o marechal alucinado.
Marechal José, o furioso determinado.
Marechal José, o inabalável.
Marechal José de emblemas inumerável.

Marechal José marcha subindo a íngreme montanha sozinho!
Sozinho o marechal José marcha subindo a íngreme montanha!
Sozinho o marechal José marcha !
Sozinho marechal José marcha!

Sozinho o marechal marcha!
Sozinho o marechal marcha!
O marechal marcha!
O marechal marcha!

Marcha!
Marcha!
Marcha!
Respira fundo...

...e o marechal... não vendo nada nos quatro horizontes...
Olha para o céu... e se vê...
Não menos que em um instante o Raio estoura
Despedaçando-o como nenhum outro mutilado.

Agora resta José
Que chora.
O José chora...
O José, esse homem, ele chora...