quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Se a vida fosse bela

Andaríamos nús.
Nadaríamos no Rio Tietê.
As crianças não teriam medo de nossas caretas.
Todos se uniriam para ver o sol nascer e se pôr.
Os bocejos e soluços seriam artísticos.
Tudo seria solução.
Não mediríamos o tempo de um abraço.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Estou dividido
Entre o amargo
E a doçura fluente
E na poesia eu tropeço de repente

Ajoelhado, meio deitado
Quase de lado
Inspiro fumaça seca
Tateio o lodo

E logo me entristeço
E me admiro
E miro o verde
Caio na sede

Um óde ao inseguro
Instavel como os segundos
Choro na razão
Desconfio da solidão

Quase...
Quase não...
Uma fase do sim.
Sorrio eu?
Violão, acústica transcedental
Nos pólos, o gelo branco
Se derrete na imensidão azul
Dureza se dissolve na melodia

Caminha... Caminha... Caminha...
Flechas disparam a frente
Raios estouras as árvores
A terra voa com o ventaval

Caminha admirado
Pés flutuam
Pegadas aeradas
Arco-íris são navalhas.

Desafina!
Tomba em areia fina
Montes longínqüos
Deserto.

Sol estável.
Nenhuma consideração.
Um coração em alfa.
Uma lágrima...
Tudo se mobilizava
Eu estou no comando
O gordo tá no telhado?
Joga aqui pra baixo.

Eu sou o rei.
Ela me obedece.
Tem muita sujeira.
O que está acontecendo?

Eba piscina!
O que eu faço?
Eu não posso fazer nada.
Piscina.

Um sonho!
Não muito intenso.
Helicóptero debaixo d'água.
Não tenho ninguém pra compartilhar o momento.


Aconteceu a noite no quarto de um hotel numa estrada deserta.
A Luxúria me encarou de frente, me segurou e convicta, tal como a Luxúria é, me disse:
-Persuada-me minha criança.
Desprevenido, assustei, a Luxúria fitou-me por um segundo
E sorriu com a minha inocência.
Minha vida é meu encantamento.
Que sorri, que se acanha, que encanta
Por todos os cantos,
Florescendo deserto,
Embelezando tanto,
Inspirando,
Chamando Maria pra dança,
Rindo de pássaros como criança.
E amedrontado
Pelos corações sem confiança
Minha escravidão é meu encantamento.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Menino doce
Me surpreende balas sortidas
Variadas, doces, coloridas.

Não...
Criaste amargo no beijo risonho,
Criança tristonha, aguardarei.
Encontros vivem de possibilidades cumpridas com sintonia.
Sintonia na certeza se desgasta.
Você não entende!

O que me resta de possível
É sorrir com teu caminho
Te reconhecer na tarde trabalhosa.
Te relevar na amistosa noite.
Me entristeço.
Caminhe, menino.

Te abençoarei em pureza, em pedido, em segredo.
Te sorrirei como sustento.
Te negarei como sustento.
Crescemos, homem, havemos de ser o que nos cabe.

Hei de ser mulher.
Me entristeço.
Mas só viverei ao trilhar meus dias.
Entenda.
Trilhe os teus, me iluminará qualquer fresta de tua luz.
Reapareça!
Digo que pelo tato gélido
As sombras ao fundo dos becos
Fazem o dramatismo e despedem-se.
Deixam luz cálida fugaz
Que sentem o recente
Como um ar leve quente
E canto à brisa de terra molhada
E às sementes que brotam do algodão
A canção dos amores noturnos.

sábado, 11 de setembro de 2010

“numa só gota
Vivi um oceano...
E no centro desse todo,
Mergulhei de cabeça
Até arranhar o nariz
No infinito fundo.
Ao retornar,
Num tempo sem fim,
Entre os meus extremos,
Parecia estar
Preso numa só lágrima
Que se soltou de mim.”

Truck Tumleh

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ai menino...
Sapeca, bolinha amarela pinga na ladeira
Pinga, pinga, descendo a ribanceira
Alegre e pingativa, cai na profunda poça, bolinha com meleca!
É de sangue, vixe! Nossa!

Esses borbulhos... Distantes que afloram na poça...
Seriam borbulhos de mistérios cantados ou gargalhados?
Mas minha nossa!
É a escuridão poente, que ressurgi no lilás transluzente.
Apaga-se na nota capricho massante,
Branco perene úmido em lágrimas da velha cartomante.

Lua querida, hoje o sol se criou de repente,
O seu poente escorreu, raspou o passado
Todo caído, aflito, gelado.
Sol, seu safado.

Outrora sabiam de onde vinha a virilidade dos galos no sol ardente.
Que fomentam desejos por fomentar o quente.
Voam por cima da cerca quando lhe apraz.
Fugaz paz... Fugaz paz, viril e toda fomentada.
Disseram: que nada!
Que nada pegar na enxada, sozinho engolir rabanada.

Meus dotes são outros
O João de barro conhece meus dotes, teu lote.
Meu mascote amigo que silencia o pingo da pia
Postula uma poesia concreta.
Silêncio, por favor.