quinta-feira, 6 de março de 2014

Eu sou uma pessoa vazia, mas não sou medíocre. Quer dizer...Eu sei exatamente o momento que estou sendo medíocre, os tipos de situações, as formas de ser quando eu entro nessas situações, e eu parei de ser. Só que isso não significa nada.
Não chega a ser contra a natureza, mas é um freio na natureza pra perceber ela. E a energia sexual no nível mais baixo ela é o gozo, só que essa mesma energia tem um poder de nos levar pra lugares desconhecidos.
É uma meditação das mais poderosas e prazerosas.
E sentir a transcendência junto com um parceiro.
Acho q tem a ver com aqueles momentos da música que vamos para um plano elevado. Entramos nesse plano juntos, e sabemos que estamos juntos.
A energia do tesão, que é a energia da vontade, ela é toda dissolvida e transformada em relaxamento.
E nesse relaxamento vai acontecendo sensações supersensoriais, todos os sentidos se tornam mais aguçados.
A conexão com o momentos e tornar muito intensa.
E a presença do outro se torna muito real, e nós nos tornamos muito real, e tudo se torna desconhecido.
E seguro ao mesmo tempo.
O medo é de ir contra tamanha sensibilidade que surge.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ah.... Como é o nome daquela estrela? É uma sereia acenando com seu rabo de brilhos transcedentais? o que estará pensando desse monte de gente dormindo em plenas quartas fartas da labuta lá desde segunda? É amor? É Amor? A-m-o-r? ah.... fique a vontade madame celestial, esse universo está esperando a tantos e tantos anos... derrame seu cântico criador sobre nossos pesados ombros precisamos do seu carinho, sua paz é o nosso maior e mais elevado bem. já estou mais feliz agora. Sorrio mais alegrinho. Tchau dona. Boa noite.

Nos verdes campos, prados compridos se alastravam brilhando ao sol radiante o verde florescente até o profundo horizonte. Ipês rosas, frondosas árvores de flores roxas transbordantes de vivacidade enchiam a natureza da mais substanciosa vitalidade que há dentre todas as criações divinas. Pequeninas flores cresciam tímidas inseridas naquela infinita imensidão, balançandinho pareciam que dançavam com o todo que ali existia em plena magia. O céu... Grande céu, azul feição, face do Pai Onipotente de pele macia e vasta, misericordiosa, mistério a plena luz do dia. Inundava de bênçãos todo o verde, e o verde no vento cantava em alegria entusiástica, vibrante em êxtase profundo. Assim inicia a história.
Caminhava tímido , olhava para o lado como se evitasse sentir a culpa pelo que acabava de acontecer, a tristeza deixava seus olhos abobados, distraia-se com as tristezas da natureza: folhas mortas, terra sem grama, pássaros em silêncio. Nada parecia ter mudado, fazia uma eternidade que tudo estava assim: os pássaros nunca tinham feito uma canção sequer. O vento soprava.
-Vento, ó ventinho... – dizia em tom de compreensão – você está tão fresco, eu estou um pouco triste, me contou já tantos segredos quando eu passava por aqui e agora ouve aqui o meu segredo.
O vento assoprava mais suave para não intimidá-lo com tal sinceridade que brotava do coração naquele instante.
Olho para frente, vejo tanto destino, pesado e longínquo destino, olho para trás vejo meu envelhecimento, poeira e rascunhos não terminados. Sempre tive os mesmo pés, o direito e o esquerdo de nenhuma outra pessoa que rodou por esse planeta senão meus e tão tão jovem, sinto meu calcanhar mais calejado que os ciganos que atravessaram os infindáveis desertos. Eis meu segredo: - por um instante não sabia se dizia, não sabia se podia, falar aquilo em voz alta e disse – não conheço nada sobre o amor.
O vento parou. O sol ficou nublado. Misterioso e intangível som surgiu do longe entre dois abismos de silêncio: um único pio efêmero.

O tempo – falava para seu vazio e para o vazio do mundo -  o tempo passa sob meus pés...

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Penso eternamente como faço para não pensar eternamente
Me encontro no pensar, sentindo a imagem de uma eternidade luzente
E ao pensar em dizer sobre a eterna luminescência, digo o que não penso para confundir minha divindade
E ouvindo as palavras que falo, aprecio apenas num pequeno tempo para não perder minha humanidade
Humanidade, é isso que amo em mim.
Ah! Que divino!

O azul do céu que está no céu é grande
E grande é minha surpresa com tua azul grandeza
Mas... se eu pudesse fazê-lo de azul amarelo
Ai de mim...
Faria dentro de mim mesmo um insano duelo
Que tudo quer e nada tem.
Pois no tudo querer me convenceria de que nada tenho para desejar um querer ter.
E no nada ter sofreria a dor do homem sozinho que todo desejo tem e é incapaz de sobre si mesmo saber.

Quanto mais digo o que sinto, mais sinto que o que digo não tem sentido
E dizendo o sentimento que digo
Sigo sem sentir o próprio sentir desatento
Nesse próprio não sentir dizendo
Fazendo disso um próprio experimento
No não-sentir digo como se fosse do dito que nascesse o sentido
Fico perdido sem senso esquecido que certa vez houve, sim, algo no peito como um dito sentimento.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A bexiga cheia d'água estoura debaixo d'água

Toda aquela pele suada
Ditatorialmente pressiona contra outra pele.
O conjunto irradia úmido calor.
Entrelaces de escorregadios membros dinamizam o jogo da perssuasão.
De mão inteira estala e belisca a carnos.
E entrega, se empina em ardência que flameja a alma.
A sauna torna o sexo selvagem, uma transa com firmeza.
O fervor do sangue pesa os olhos,
pois a busca é tateando
visão não é bem vinda, não há o que se reparar.
Com o desenvolvimento da brincadeira de adivinhações
à fragrância de óleos corporais,
a energia potencial aumenta,
transformando-se em cinética e térmica dissipada.
Coxas se batem no ritimo da deliciação,
Os apertões deixam de ser altruístas
e só anseiam o apertar.
Baforadas parteiras profetizam.
E são coxadas, apertadas e baforadas
que na tensão do orgasmo a nuca se tensiona para o descarrego
O berro do gemido soa! Soa anunciando o gozo do desejo.
Soa alto, soa em satisfação. Soa como o choque diante do maravilhoso.




quarta-feira, 11 de julho de 2012


1

“Eis que cá estou, diante da escuridão urbana e da chuva onipresente.
Trago em meus braços uma vergonha, inconfundível.
Trago o segredo que me põe a caminhar ao abismo do horizonte.
Em panos de linho bordado, carrego o segredo, compreendido somente entre hienas, as quais vivem do próprio instinto e se esbanjam da grandeza de rir.”

O sol renasce! O sol transforma o véu da noite num degrade nas luzes celestiais. Os sabiás voam e cantam entre eles, a natureza ressoa bela, silenciosa, solitária e bela. E tal solidão é fardo carregado devido a homens civilizados, naturalizados em uma cultura plasticamente lúdica, porém persuasiva.

“Já faz dia, o cajado solar já despontou, e o segredo ao sol é revelado, mas diante do globo flamejante tal segredo permanece indiferente mesmo enquanto revelado, a própria exposição do segredo oculta-o.
Caminham cartomantes, homens civilizados, monges e andarilhos, e o segredo continua a mostra e permanece segredo aos olhos de todos.

Ofusca-se. Sim. Ofusca-se. Mas, Oxalá, não ofusca nenhuma visão nos dias de hoje. Ofusca-se os pensamentos. A própria imagem nos olhos é o esconderijo.

2.

“Lágrimas de ventura, derramo-as da alegria do alívio. Sabendo das aflições e da ânsia apreensiva, desvaneço o temor num impasse. Sou o Eterno Compassivo, me clamem de Eterno Compassivo, essa é a minha face real. Os sonhadores me sabotam nos próprios sonhos. Os realistas discursam sobre mim como argumento da dialética. Os instintivos dizem com veemência: Não obrigado. Mas sou o Eterno Compassivo, me clamem de Eterno Compassivo, só essa é a minha face real”.


Carrego o fardo do sacrifício concedido por Deus Pai, não pelo Filho e nem pelo Espírito Santo, e quem arriscaria em dizer tal heresia? Há ainda muita seriedade nos centros urbanos. Não seria justo dizer que cumpro deveres, ou faço justiça, ou exerço meu dom. Corro entre os mortais como vagabundo, injusto e mau vivant. Sendo assim, o mais solitário entre os altruístas, eu sim, eu cumpro deveres, eu faço justiça, eu exerço meu dom. Santifico e profano a minha própria identidade em meu nome, e me esqueço que eu quem piso no solo da Terra.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Da Vaidade dos Artistas - Nietzsche

Creio que os artistas ignoram muitas vezes o que de melhor sabem fazer porque são muito vaidosos e dirigiram sua vista para alguma coisa de mais altivo, desdenhando essas pequenas plantas que, novas, raras e belas, crescem em seu solo com real perfeição. Julgam superficialidade o que há de verdadeiramente bom em seu próprio jardim, em seu próprio vinhedo e seu amor não é da mesma ordem de sua inteligência. Aí está um músico que, mais que qualquer outro, se tornou mestre na arte de encontrar tonalidades para exprimir os sofrimentos, as opressões e as torturas da alma e também para dar voz ao muntismo desolado do animal. Niguém o iguala para conferir uma coloração de fim de outono, a felicidade indivizivelmente comovedora de um último, absolutamente último e inteiramente efêmero prazer, ele conhece o tom para essas minúcias da alma, secretas e inquietantes, em que causa e efeito parecem se separar, em que cada instante alguma coisa pode surgir do "nada". Melhor que ninguém tira o que quer do mais profundo da felicidade humana e, de alguma forma, de sua taça já vazia, onde as gotas mais amargas acabam por se confudir com as mais doces.
Ele conhece essas oscilações cansadas da alma que não sabe mais saltar nem voar, nem mesmo caminhar; tem o olhar receoso da dor escondida, da compreenção que não consola, dos adeuses sem confissões; sim, como Orfeu de todas as misérias íntimas, ele ultrapassa qualquer outro e acrescentou com isso a arte das coisas que, até aqui, pareciam inexprimíveis e mesmo indignas da arte - e que, sobretudo com palavras, só podiam ser postas em fuga e não aprendidas - mesmo todos esses elementos infinitamente pequenos de natureza anfíbia - pois na arte do infinitamente pequeno se tornou senhor. Mas não quer saber disso! Pelo contrário, seu carater prefere os grandes murais, a audaciosa pintura mural! Não percebe que seu espírito tem outro gosto e outro pendor, que preferiria se refugiar tranquilamente nos recantos de casas em ruínas:- é ali que escondido, escondido de si próprio, compõe suas verdadeiras obras-primas, que são sempre muito curtas, um simples compasso muitas vezes - então somente é superior, absolutamente grande, perfeito. - Mas ele não sabe! É demasiado vaidoso para sabê-lo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Vida

A vida são leves alívios de esperança.
Numa fria vingança num parto ela se liberta.
Que arde incerta e canta.
Que trabalha e aprende
Que num mantra chora
Que implora a dança e cansada se rende
Mas ela compreende, mas esquece.
Até a final apreensão
Tece cheia de tensão
E o sublime se comove
E nasce de repende
Sem se desculpar com a razão
E sonha, resplandece, brilha
Voa por uma ilha, sem saber do sonho que acontece.
E sem conhecer os misteriosos preservativos
Faz-se outro filho, maldita vingança. Então esfria, escurece.

Assim esmorece até sermos responsáveis crianças. (ou não)

domingo, 8 de maio de 2011

Culpa

Culpa é uma desculpa vaidosa,
Humilde sofredora maliciosa.
É um gato todo manhoso
Que só merece podre espinho,
Jamais, jamais a rosa.

Amém.

domingo, 1 de maio de 2011

É meu irmão...
Tornei-me rígido
Como o olhar cego
E a doçura das rochas.

Tuas palavras de bondade
Que seduzem
Me faz pensar(Querem te perdoar)
Penso, nego, algo em mim te perdoa. (Ou querem te ver na poça?)

Não é tuas palavras que me pensam.
Meus pensamentos não mais enfrentam.
-Que erro quer mais me convencer que existe?
-Veja por si só! Felicidade...

É... -
Digo.
Mas não
Não me convenço desses sorrisos...
As palavras eram ditas
Ditadas com rouquidão
Eram malditas palavras frias
De um engasgo sem persuasão

Cruas, nascidas do medo
Me soavam amedrontadoras
E minha indiferente vaidade
Ouvia com desprezo as palavras arrasadoras

Quantas besteira.
Agora eu via.
Intimidadoras besteiras claras.
Quanta bosta, quanta asneira.

Ouvi e não foi tão difícil assim
Eram besteiras soltas
Besteiras de adolescente
Um demente disse essas besteiras

Iluminado foi esses arrotos
Arrotos belos
Soavam como impulso da natureza
Assim a natureza bela se iluminou mais um pouco...

sábado, 2 de abril de 2011

Caso queira sua alma
Há de seguir alguns requisitos básicos
Estritamente necessários
Aos que se afundaram em mares do choro e ranger de dentes
Primeiramente
Deve-se cuspir em toda decadência a sua volta
E trilhar com altivez entre a decadência antes convivida
Vença a guerra contra todos que se colocaram como superiores
Exceto tua mãe. Tua mãe sempre será tua serviçal por obrigação, como o papel de superior na hierarquia.
Depois que despertares toda arrogância em teus inimigos
Uma arrogância defensiva, incapaz causar qualquer impacto em ti com a demagogia,
uma arrogância que tenda a loucura, a completa falsa humildade
A partir disso diga ao inimigo que todo aquele mal que ele lhe fez
Foi um bem e explique detalhadamente como você se elevou nessa guerra travada
E que agora acabou, você já se elevou, seu superior já não tem poder sobre ti,
Acabou.

domingo, 20 de março de 2011

Origem da Palavra Desejo


Segundo Marilena Chaui



"A palavra desejo tem bela origem. Deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera), significando a figura formada por um conjunto de estrelas, isto é constelações. Porque se diz dos astros, sidera é empregado como palavra de louvor—o alto—e, na teologia astral ou astrologia, é usado para indicar a influéncia dos astros sobre o destino humano, donde sideratus, siderado: atingindo ou fulminado por um astro. De sidera, vem considerare—examinar com cuidado, respeito e veneração—e desiderare—cessar de olhar (os astros), deixar de ver (os astros)...Nosso destino está inscrito e escrito nas estrelas e considerare é consultar o alto para nele encontrar o sentido e guia seguro de nossas vidas. Desiderare, ao contrário, é estar despojado desta referência, abandonar o alto ou por ele ser abandonado. Cessando de olhar para os astros, desiderium é a decisão de tomar nosso destino em nossas próprias mãos, aquilo que os gregos chamavam bóulesis. Deixando de ver os astros, porém, desiderium significa uma perda, privação do saber sobre o destino, queda na roda da fortuna incerta. O desejo chama-se, então, carência, vazio que tende para fora de si em busca de preenchimento."

(Do Texto Laços do Desejo)

Ode descontínua e remota

Ode descontínua e remota para flauta e oboé. De Ariana para Dionísio.



Canção II

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu.
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

Sobre a bela genialidade

Explicaram-me teorias psicológicas e provaram como numa equação matemática as verdades da mente humana. E com vaga curiosidade caminhei, invés de um pirulito na mão tinha idéias sobre a psique humana em meus pensamentos e pensei, pensei, pensei, até sorri e ri daquilo que pensei.
Um homem estranho com roupas estranhas com uma voz que soava estranha me olhou com um olhar estranho e me disse uma coisa estranha:
-Coração... Coração... Coração... Existe vida a nossa volta!
Me emocionei com aquela genialidade.

sábado, 19 de março de 2011

História Sufi sobre ciúmes

Um homem estava muito oprimido pelo seu sofrimento. Ele costumava orar diariamente a Deus, "Porque eu? Todos parecem ser tão felizes, porque só eu estou sofrendo tanto?" Um dia, em grande desespero, ele orou a Deus, "Você pode me dar o sofrimento de qualquer um outro e estou pronto para aceitar isso. Mas leve o meu, não posso mais suportá-lo".

Aquela noite ele teve um belo sonho, belo e muito revelador. Ele sonhou naquela noite que Deus aparecia no céu e dizia para todos, "Tragam todos os seus sofrimentos para o templo". Todos estavam cansados de sofrer – na verdade todos tinham orado alguma vez ou outra, "Estou pronto para aceitar o sofrimento de qualquer um outro, porém leve o meu sofrimento, é demais, é insuportável".

Assim todo mundo colocou seu próprio sofrimento em sacolas e levaram para o templo e todos pareciam muito felizes; o dia havia chegado, suas preces foram ouvidas. E esse homem também correu para o templo.

E então Deus falou, "Coloquem suas sacolas na parede". Todos as sacolas foram colocadas na parede e então Deus declarou: "Agora vocês podem escolher. Podem pegar qualquer sacola".

E a coisa mais surpreendente foi: que esse homem que tinha estado sempre orando, correu em direção a sua sacola antes que alguém mais pudesse escolhê-la! Ele contudo, ficou surpreso porque todo mundo correu para sua própria sacola e todos estavam contentes com a escolha. O que aconteceu? Pela primeira vez, todos viram a miséria dos outros, o sofrimento dos outros – as sacolas deles eram tão grandes, ou até mesmo maiores!

E o segundo problema era, as pessoas tinham se acostumado com os seus próprios sofrimentos. E agora escolher o sofrimento de outra pessoa - quem sabe que tipo de sofrimento estará dentro da sacola? Pra que se incomodar? Pelo menos você está familiarizado com o seu próprio sofrimento e você já está acostumado com ele, e ele é suportável. Por tantos anos você o tolerou - porque escolher o desconhecido?

E todos foram para casa felizes. Nada havia mudado, eles estavam trazendo o mesmo sofrimento de volta, mas todos estavam felizes e sorridentes e alegres porque conseguiram suas próprias sacolas de volta.

Pela manhã ele orou para Deus e disse, "Grato pelo sonho; nunca mais pedirei novamente. Tudo que você me tem dado é bom para mim, tem que ser bom para mim; eis porque você me deu isso".

terça-feira, 8 de março de 2011

Cantiga do viúvo

A noite caiu na minh'alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.
Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.

Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...
acabou.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 5 de março de 2011

Francesco Alberoni - O Erotismo

A mulher, portanto, aceita o corpo do homem pouco a pouco, gradualmente, através do amor. O homem amado, então, não é mais o animal predador que penetrou em seu corpo, que se satisfez, que dorme saciado. É como um menino que se entregou ao sono como se entregou ao amor, por efeito do seu amor. Não é mais a vítima, mas a caçadora. Sente o orgulho de Diana que lançou sua flecha e agora olha sua vítima inerte, e sente-se recompensada. Então adormece ao lado daquele corpo relaxado, inocente, que deve proteger. O corpo do homem amado não está mais separado. Ela está deitada, reclinada em seus braçoss e aspira seu hálito. Seu hálito é como o ar, indispensável. Seus odores se fundem, constituem um único odor, um único perfume. Sente o perfume penetrar pelas narinas certa de estar em paz com a vida. Tocá-lo é, então, o mesmo que tocar uma zona maravilhosa, quieta. É a certeza do contínuo, do permanente. Da eternidade.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pobre andarilho

Sou o pobre andarilho
Que caminha entre as tribos urbanas
Procurando qualquer coisa de brilho,
Qualquer compassiva alma, alma humana.

Eu que de abandono sofro,
Só encontrei um caminho:
Apertar a rosa sem alvorço
Fazendo as mãos sangrarem com os espinhos.

Se te segurei forte
É que me sinto inseguro e fraco.
Ando trilhando sem norte
Segui e suguei teus carinhos, teu aroma, teu laço.

Me perdoe, flor... Me desculpe...
Não quero ser um esquecido.
Se disse que te amo, não me culpe,
Precisava urgentemente de um amigo.

Uma vida pacata


A vida?
To levando...
To levando...
Só quero alimenta minhas cria...
Nada grande...
Quero sonha não.
Isso num é pra mim não.
Dever?
Num devo nada não.
Graças a nosso bom Deus.
Graças a Ele.

Moralismo

Pra se ser altruísta
Deve-se ser feliz.
Pois um altruísta sem felicidade,
Deus me livre do que ele pensa da verdade!

Só quem tem abundância
Pode doar a vontade à vontade.
Um altruísta de miséria
Não conheceu o amor próprio sem idade.

Primeiro odeie ou esqueça!
Aquele que com ti é indiferente
Ou o encare com violência
Ou vire a cara e desapareça.

Não faça a quem não mereça.
Você não merece.
Feche seu coração a esse abismo
E esvazie sua caneca de pobreza.

A vida é hoje! Para de ser besta!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Criança caótica

Eu adorava o caos!
A minha felicidade
Era aqueles adultos
Cheios de desespero
Sem saber por onde começar a extravar a loucura.
Era cinematográfico!

Carência

Sou carente de ser caro.
Sou carente por me sentir raro.
Vejo essa coisa de alegria fingida:
Carência inibida,
E logo fico sério
E a mim digo uma rima:
-Não mente, você não é carente.
E ouço atentamente
E vejo que a carência
Está em mim sim e está a minha frente.
A sua alegria
Que canta à toa
Que boceja com o corpo inteiro
E que finge que entende
Me alegra tanto.
Mergulhei fundo!
Disso eu sei.
Eu fui fundo.
Fui fundo...
Os mais próximos temeram onde fui.
Cegamente me aventurei nas profundidades.
E você...
Tão superficial.
Tão superficial.
Mas como é superficial.
E transborda beleza.
Que droga... Eu te amo.
Essa menina
Que vê criança traquina
Na maldade da vida
Me tira o rumo da Verdade
E me deixa assim...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu cheio de sentimentos
Tudo me encanta
Os pássaros
A estrelas
A manhã fresca
A noite que me aquieta
Teus olhos
Teus cabelos
Teu sorriso
Teu jeito de caminhar.
Sou cheio de pensamentos longínquos
Mas o momento que me é mais especial.
É quando faço cocô.
Aiii... Que gostoso!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por te idealizar
Mais que meu amor pelas idéias
Fiquei alucinado
Um autista enlouquecido, apaixonado

Que de tanto gritar
A paixão sem chão,
Idealizei-a.
Me apaixonei pela paixão

Te assustei
Com meu imbecil coração
Que me deixou sem lugar pra pisar
Sem tuas mãos pra entrelaçar

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que os românticos não falaram

Escrevo sobre coisas belas
Como um apaixonado
Contemplando o papel diante de mim
Escrevo cada palavra em seu devido lugar.

Dobro a carta com zelo
Um menino doce, ingênuo
E só a garotinha quieta percebe
O que aconteceu naquele instante.

Mas finge que nada viu.

Entrego com rapidez
Como aquele menino
Que chama pela primeira vez
A tia da escolinha de professora.

Ela desdobra meio indiferente.
Mas espero cheio de expectativa
E recebo o que esperava:
O sorriso da linda menina!

Yes! Já comi!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Farinelli il Castrato - Lascia Chio Pianga



Uma beleza óbvia nascida do absurdo
Que antes da puberdade
A vida (o pênis) foi-lhe arrancada
Em prol da arte ardida, desnuda.

Uma morte que com as vísceras canta a suprema paixão
Pela vida inexistente
Onde amor à beleza
E ódio a vida fundem-se dramaticamente.

O mais sublime dos masoquismos.
A mais densa honraria.
O acolhimento da abandonada miséria
No esplendor de uma canção divina.

É o grito de liberdade
É o sádico destino
É o berro incontestável
De uma flor

Daquela que nasceu da lástima do menino.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Andy Mckee - Commom Ground



Andy McKee (Topeka, Kansas, Estados Unidos, 4 de abril de 1979) é um compositor e guitarrista de fingerstyle percussivo.
O resto a música fala por si só.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A luz entra no quarto
O quarto esquenta
Acordo
Me pergunto
Ser preguiçoso ou não?
E sem muito esforço decido ser
E me acomodo na cama
Durmo novamente
Acordo novamente como num próximo instante
Me pergunto novamente
Ser preguiçoso ou não?
Me impulsono
Levanto
Sono não existiu
Tostex
Escovo os dentes
Roupa básica
Saio pela porta
Casa não existiu
O cão no meio da rua
Vislumbra a rocha que vai ao horizonte (rua?)
E acaricio o au-au
Dedo não existiu
Solidão
O aperto no peito
De uma vida sem leito
Um trovão

Um impulso ruído
Um cão de guarda
Na noite aguada
Chuva imbuída de razão

Um sono que me cala
Um sonho que me afaga
Um lamento que rasga
Minhas vestes toda rasgão

A tara que me sobe
O suor que me exala
A saudade que me toma
E esse silêncio ocupando meu tranjeto a um tempão.

Coisas e reconhecimento

Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas coisas coisas
Reconhecimento reconhecimento reconhecimento
Reconhecimento reconhecimento reconhecimento
Coisas coisas coisas
Coisas reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento coisas
Reconhecimento coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas reconhecimento
Mas, Meu Deus, quando chegará o momento
Que reconhecerão o abismo do reconhecimento
E que uma coisa é só uma coisa e não existe tormento?
A não ser nessa coisa de querer coisas e de querer reconhecimento
Coisas e reconhecimento
Coisas e reconhecimento
Coisas e reconhecimento...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um amor indiferente

Eu quero um amor indiferente
Uma coisa meio vagabunda
Nada muito intenso
Qualquer coisa me agrada
Um amor pra falarmos o que vier
Mas também um silêncio aflito, é bom.
Quero um amor medíocre,
Meio falso
E meio entediante.

Mas... Amor... Tira a roupa.

Um adeus ao poeta romântico

Eu que não posso ser poeta
A não ser amando sem saber.
Não encontro uma seta
Para rimar o último verso dessa estrofe.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Aleph - Jorge Luíz Borges

Cumpri suas ridículas instruções; por fim, saiu. Fechou cautelosamente o alçapão; a escuridão, embora houvesse uma fresta que depois distingui, deu a impressão de ser total. Subitamente, compreendi meu perigo: deixara-me soterrar por um louco, depois de tomar um veneno. As bravatas de Carlos evidenciavam o íntimo terror de que eu não visse o prodígio; Carlos, para defender seu delírio, para não saber que estava louco, tinha de matar-me. Senti um confuso mal estar, que tentei atribuir à rigidez e não ao efeito de um narcótico. Fechei os olhos, abri-os. Então vi o Aleph.

Chego, agora, ao inefável centro de meu relato; começa aqui meu desespero de escritor. Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartem; como transmitir aos outros o infinito Aleph, que minha temerosa memória mal e mal abarca? Os místicos, em análogo transe, são pródigos em emblemas: para significar a divindade, um persa fala de um pássaro que, de algum modo, é todos os pássaros; Alanus de Insulis, de uma esfera cujo centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma; Ezequiel, de um anjo de quatro faces que, ao mesmo tempo, se dirige ao Oriente e ao Ocidente, ao Norte e ao Sul. (Não em vão rememoro essas inconcebíveis analogias; alguma relação têm com o Aleph.) É possível que os deuses não me negassem o achado de uma imagem equivalente, mas este relato ficaria contaminado de literatura, de falsidade. Mesmo porque o problema central é insolúvel: a enumeração, sequer parcial, de um conjunto infinito. Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos prazerosos ou atrozes; nenhum me assombrou tanto como o fato de que todos ocupassem o mesmo ponto, sem superposição e sem transparência. O que viram meus olhos foi simultâneo; o que transcreverei, sucessivo, pois a linguagem o é. Algo, entretanto, registrarei.

Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de quase intolerável fulgor. A princípio, julguei-a giratória; depois, compreendi que esse movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu a via claramente de todos os pontos do universo. Vi o populoso mar, vi a aurora e a tarde, vi as multidões da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de uma negra pirâmide, vi um labirinto roto (era Londres), vi intermináveis olhos próximos perscrutando-me como num espelho, vi todos os espelhos do planeta e nenhum me refletiu, vi num pátio da rua Soler as mesmas lajotas que, há trinta anos, vi no vestíbulo de uma casa em Fray Bentos, vi cachos de uva, neve, tabaco, veios de metal, vapor de água, vi convexos desertos equatoriais e cada um de seus grãos de areia, vi em Inverness uma mulher que não esquecerei, vi a violenta cabeleira, o altivo corpo, vi um câncer no peito, vi um círculo de terra seca numa calçada onde antes existira uma árvore, vi uma chácara de Adrogué, um exemplar da primeira versão inglesa de Plínio, a de Philemon Holland, vi, ao mesmo tempo, cada letra de cada página (em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o fato de que as letras de um livro fechado não se misturassem e se perdessem no decorrer da noite), vi a noite e o dia contemporâneo, vi um poente em Querétaro que parecia refletir a cor de uma rosa em Bengala, vi meu dormitório sem ninguém, vi num gabinete de Alkmaar um globo terrestre entre dois espelhos que o multiplicam indefinidamente, vi cavalos de crinas redemoinhadas numa praia do mar Cáspio, na aurora, vi a delicada ossatura de uma mão, vi os sobreviventes de uma batalha enviando cartões-postais, vi numa vitrina de Mirzapur um baralho espanhol, vi as sombras oblíquas de algumas samambaias no chão de uma estufa, vi tigres, êmbolos, bisões, marulhos e exércitos, vi todas as formigas que existem na terra, vi um astrolábio persa, vi numa gaveta
da escrivaninha (e a letra me fez tremer) cartas obscenas, inacreditáveis, precisas, que Beatriz dirigira a Carlos Argentino, vi um adorado monumento em La Chacarita, vi a relíquia atroz do que deliciosamente fora Beatriz Viterbo, vi a circulação de meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetura) cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.

Senti infinita veneração, infinita lástima.

domingo, 28 de novembro de 2010

Carlos Nóbrega dos Riachos

Carlos Nóbrega dos Riachos, homem impetuosamente político, distraidamente artístico, uma oposição estranha e bela. Crítico engrandecido, altivo, esbravejava aos 7 mares, ao tom de conquistador convicto de persuasão aliciante. Tal olhar refulgente e fumengante se esvaziava, amolecia, aquietava num segundo... Olha! É o caminhar do carangueijo caminhante.
...s mares junto aos olhos se acalmavam... O vento pacificava a existência, o sereno descia e com o simpático carangueijo tiritante Carlos se distraia.
O mar era um, belo e um, a praia era uma, bela e uma, e o carangueijo tiritante num segundo era tragado pela areia como numa bruma.
Carangueijo agora, lembrança de sonho. Carlos, acariciador de areia, a apunhalava e a deixava escorrer feito véu vislumbrado pela efêmera cena.
E o místico carangueijo ainda flutuava meio abobalhado pela lúdica memória de Carlos. E assim...
TEC!
Num estalo Carlos sai da hipnose. Karateca vigilante. Olha a volta, Carlos nem se percebeu distante. Então Carlos se levanta, chacoalha a areia da calça e caminha firmemente sem ter idéia que da vida ele é um amante.

Palavras

Palavras não são apenas palavras. Elas têm disposições de ânimo, climas próprios.

Quando uma palavra se aloja dentro de você, ela traz um clima diferente à sua mente, uma abordagem diferente, uma visão diferente. Chame a mesma coisa de um nome diferente e perceberá: algo fica imediatamente diferente.

Existem as palavras dos sentimentos e as palavras intelectuais. Abandone cada vez mais as palavras intelectuais, use cada vez mais palavras dos sentimentos. Existem palavras políticas e palavras religiosas. Abandone as palavras políticas. Existem palavras que imediatamente criam conflito. No momento em que você pronuncia, surgem discussões. Assim, nunca use uma linguagem lógica e argumentativa. Use a linguagem do afeto, do carinho, do amor, para que não surja discussão alguma.

Se você começar a ficar consciente disso, perceberá uma imensa mudança surgindo. Se você estiver um pouco alerta na vida, muitas infelicidades poderão ser evitadas. Uma única palavra pronunciada na inconsciência pode criar uma longa corrente de aflição. Uma leve diferença, apenas uma virada muito pequena, e isso cria mudança. Você deveria ser muito cuidadoso e usar as palavras quando absolutamente necessário. Evite palavras contaminadas. Use palavras arejadas, não controversas, que não são argumentos, mas apenas expressões de suas impressões.

Se você puder se tornar um especialista em palavras, toda a sua vida será totalmente diferente. Se uma palavra trouxer infelicidade, raiva, conflito ou discussão, abandone-a. Qual é o sentido de carregá-la? Substitua-a por algo melhor. O melhor é o silêncio, depois é o canto, a poesia, o amor.

Osho

sábado, 27 de novembro de 2010

Before Sunset - A Waltz For a Night



Essa passagem é do filme Antes do Pôr-Do-Sol (nome original: Before Sunset), que é a continuação do Antes do Amanhecer (Before Sunrise). No primeiro filme um garoto conhece uma garota no trem e ele a convoca a passar um dia em Viena dizendo: Se imagine casada, velha, e você está infeliz. Então você irá olhar para o passado e lembrar de todos os homens que você dispensou na vida e você irá se arrepender pois poderia ter sido um deles que faria sua vida feliz. Se você passar um dia em Viena comigo você vai me conhecer e você vai poder ficar com a consciência tranqüila! Então ela aceita. É um filme romântico, mas não um romance platônico, é um romance "acontecível" entre dois jovens amantes da vida e intelectualizados. E na continuação eles se reveêm após 10 anos, cada um com uma vida já construída.

Deixe-me cantar uma valsa para você
Vinda de lugar algum, vinda dos meus pensamentos
Deixe-me cantar uma valsa para você
Sobre essa única noite

Você foi para mim, aquela noite
Tudo aquilo que eu sonhei na vida
Mas agora você se foi
Você se foi para longe
No caminho para sua ilha de chuva

Foi para você apenas coisa de uma noite
Mas você foi muito mais para mim
Apenas para você saber

Eu ouvi rumores sobre você
Sobre todas as coisas ruins que você faz
Mas quando nós estivemos juntos a sós
Você não pareceu um jogador

Eu não ligo para o que eles dizem
Eu sei o que você significou para mim aquele dia
Eu apenas queria outra tentativa
Eu apenas queria outra noite
Mesmo que isso não pareça nada correto
Você significou para mim muito mais
Do que qualquer outro que eu encontrei antes

Apenas uma única noite com você, pequeno Jesse
Vale milhares com qualquer outro

Eu não tenho amargura, meu querido
Eu nunca vou esquecer essa coisa de uma noite
Mesmo amanhã, em outros braços
Meu coração será seu até eu morrer

Deixe-me cantar uma valsa para você
Vinda de lugar algum, vinda dos meus pensamentos
Deixe-me cantar uma valsa para você
Sobre essa única noite


Divirtam-se!

domingo, 21 de novembro de 2010

A Morte

Eu existo
Pelo Sonho sou esquecida
E no pesadelo memorada.
Simplesmente existo
Mas é com maus olhos que sou vista.
Sou indiferente e inerente,
Silenciosa e, por natureza, inexplicável.
Uns me louvam com apatia.
Outros me negam como heresia.
Sou o desfecho
Anseio dos desesperados
Filha da Vida e do Desejo
Sou o que os tornam idealizados.
Sendo assim, simplesmente existo,
como um menino abandonado.

Francisco Meyer - Tião



-O que parece esses acordes?
-Ah, sei lá, um mendigo andando na rua.
Assim surgiu Tião.

Tião

Essa é a história de um homem que conhecia a liberdade.

Ô Tião, ei Tião, ô Tião
Livre da vida
Saudade é desânimo
Solidão

Ô Tião, ei Tião, mas por que Tião?
O passo torto
Olhar de bicho
A voz jogada
A rua é o nicho
E o pasto é resto
Ó um trocado na calçada!
Indecisão.

Ô Tião, cachaça ou pão?
Promessa ou ilusão?
A fome aperta
Mas tudo incomoda
Que baque meu irmão

Ô Tião, ei Tião, mas por que Tião?
O passo torto
Olhar de bicho
A voz jogada
A rua é o nicho
E o pasto é resto
Ó um trocado na calçada!
Indecisão.

Ô Tião, mas por que Tião?
Cachaça ou pão?
Promessa ou ilusão?
A fome aperta
Mas tudo incomoda
Que baque meu irmão!

Ô Tião, mas por que Tião?
Faz isso não, Tião
Num dá tristeza não.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Estranha idéia

Um vivo estranhamento
Uma apressada especulação
Um desconfiado cochicho
Nasceu da silenciosa multidão

Era a peste geniosa
O cochicho proliferava
O enxame de mosquito
Obsessivamente dizimava

Não se viam mais as ruas
Nem o som daquele tambor
O jardim da dona Ciça
Acinzentado, era o horror

E o horror se via geral
Até a sagrada pedra na praça
Era ponto de pouso
Do dito mosquito infernal

Que zumbia negro
Ao ritmo do caos
Emanando um odor seco
Ocultando o que era vital.

E foi assim: do mero estranhamento
Esquecido no astral
Desencadeou a história
Do cochicho que se fez fatal.

A Loucura e a flor

Era tempo de confusão
Em que a expressão da alma
Se deparou com camadas brutas
Para fazer sorrir o sutil coração

O anseio gritou aos céus
E o enfeitou da Loucura
E o cientista quadrado disse:
-Pela Razão! O que é essa criatura?

A Loucura pela Terra ia espalhada
Se encontrou com uma flor
Que sorria a ela meio alegre
Assim um tanto quanto espantada

A Loucura se admirou, mas não quis arrancá-la
Pois a origem da flor
É a terra molhada
E luziu brilhante idéia: - Vou cultivá-la!

A Loucura mesmo louca
Sabia o que queria
Sabia que seria com aquela flor que aprenderia
E assim, meio doida, a Loucura dizia:

Eu sou toda aprendiz
Assim sou eu
Aprendiz... Louca e aprendiz
É isso que sou, flor

Quero aprender o Amor
Quero aprender a Dor
Quero aprender o tempo que se passa sob meus pés
Eu quero mesmo é devendar a Vida!

-Hei, florzinha
Você aí
Me desvende seu aroma
Quero tanto cultivá-la!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cajuína



Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tão pouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria viva era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina.



CAETANO VELOSO FALA DE CAJUÍNA

Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia, pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma , afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa, mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Senti-me um tanto amargo e triste, mas pouco sentimental. Quatro, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só, e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína.

sábado, 23 de outubro de 2010

No âmago das entranhas
Busquei intensidades
Construi façanhas
De tamanha ilusão

Pesquei um peixe seco
Olho estava enrugado
Sem fôlego ele estava
Assim bem roxo

Assei o pobre mesmo assim
O céu estava nublado
Girei o peixe,
Vamos dourar o roxo!

Hum...Sabor.
Sem espinhos
Carne macia
Vitaliza a melancolia

A maré calma está,
Lençol mundano,
Bóio nele, bóio humano,
Sei a verdade e sou feliz
Desconfio












































...desconfio.

sábado, 16 de outubro de 2010

Carta a amiga palhaça nômade

Eu sou aquele que espera o segundo para iluminação
Que no dia fora do tempo
Beijou a palhaça
Descobriu que existe paixão.

Estava aqui
Livre de presunção
Me percebi fugindo
Do meu caminho para a libertação.

Não posso ficar na Babilônia
Desprezo-a sem comoção
E se não se ama
Vive-se ansioso como na insônia.

Liberdade... Talvez clichê...
Mas essa é a única Verdade
Que pode vivificar
Uma flor murcha, na flor da idade.

E na Babilônia
O céu cinzento
Só me chama ao dever e ao afogamento
Nunca ao amor e ao relento.

Me diz!
Por favor, me diz!
Como é deitar numa grama verde
E conversar seriamente com as estrelas?

Acordar com um sentido de vida
Sem um peso nas costas
Um sentido que tenha espaço
Para palhaçada, amor, poesia e prosa.

Que cada preocupação
Seja uma impulso de vida
Uma confiança
Uma fé que se concretiza.

Então me diga,
Por onde você anda?
Ou melhor
Por onde você vive a sua vida?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma lágrima escorre,
Flameja
E dispara faíscas
Num deleite efêmero.

Cicatrizes é o que restam.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Alma gêmea de minha alma
Meu amor, toda amplidão
Estrela serena e calma
Pulsar do meu coração...
A mais bela entre as flores
Poema de meus amores
Sinônimo de perfeição
Juro-te amor eterno
Minha Alma sempre amada...
Sem você meu doce amor
A vida não vale nada...
Minha mulher querida
Ès tudo na minha vida
Anjo de sedução
Alma gêmea de minha alma
Beleza rara e sincera
Flor da minha primavera
Fonte de inspiração
Quero viver contigo
Num leito só de alegrias
Ès a dona dos meus dias
Da alma e do coração
Se eu partir muito cedo
Te peço não tenhas medo
Não te deixarei ao léu
Te esperarei entre flores
Poema de meus amores
Na claridade do céu...
Alma gêmea de minha alma...
Podem passar mil anos
Ou toda a eternidade
Mas a única verdade..
È que serei sempre teu...
Te amo ...
Emmanuel Chico Xavier

domingo, 10 de outubro de 2010

A inocência brilhava no ritmo dos passos
Saltava alegre, explorava o tato
E brincava, assim, inocentemente
Beijinhos e carícias, todos inocentes.

Tudo que acontecia era generosa inocência

Batucavam o ritmo africano
Como um chamado a dança da terra
Que era todo dança
Todo dança e era inocente

Cantavam umas canções populares
Como um chamado aos cantos da tradição
Que era todo canto
Todo canto e era inocente

Cozinhavam sabores sedutores
Como um chamado ao gozo da fartura
Que era todo fartura
Todo fartura e também era inocente

Entrelaçou com delicadeza
E profetizou a amizade com grandeza
Profetizava todo extasiante.
...Sabedoria inocente...

Nem mirou o olhar distante.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Se a vida fosse bela

Andaríamos nús.
Nadaríamos no Rio Tietê.
As crianças não teriam medo de nossas caretas.
Todos se uniriam para ver o sol nascer e se pôr.
Os bocejos e soluços seriam artísticos.
Tudo seria solução.
Não mediríamos o tempo de um abraço.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Estou dividido
Entre o amargo
E a doçura fluente
E na poesia eu tropeço de repente

Ajoelhado, meio deitado
Quase de lado
Inspiro fumaça seca
Tateio o lodo

E logo me entristeço
E me admiro
E miro o verde
Caio na sede

Um óde ao inseguro
Instavel como os segundos
Choro na razão
Desconfio da solidão

Quase...
Quase não...
Uma fase do sim.
Sorrio eu?
Violão, acústica transcedental
Nos pólos, o gelo branco
Se derrete na imensidão azul
Dureza se dissolve na melodia

Caminha... Caminha... Caminha...
Flechas disparam a frente
Raios estouras as árvores
A terra voa com o ventaval

Caminha admirado
Pés flutuam
Pegadas aeradas
Arco-íris são navalhas.

Desafina!
Tomba em areia fina
Montes longínqüos
Deserto.

Sol estável.
Nenhuma consideração.
Um coração em alfa.
Uma lágrima...
Tudo se mobilizava
Eu estou no comando
O gordo tá no telhado?
Joga aqui pra baixo.

Eu sou o rei.
Ela me obedece.
Tem muita sujeira.
O que está acontecendo?

Eba piscina!
O que eu faço?
Eu não posso fazer nada.
Piscina.

Um sonho!
Não muito intenso.
Helicóptero debaixo d'água.
Não tenho ninguém pra compartilhar o momento.


Aconteceu a noite no quarto de um hotel numa estrada deserta.
A Luxúria me encarou de frente, me segurou e convicta, tal como a Luxúria é, me disse:
-Persuada-me minha criança.
Desprevenido, assustei, a Luxúria fitou-me por um segundo
E sorriu com a minha inocência.
Minha vida é meu encantamento.
Que sorri, que se acanha, que encanta
Por todos os cantos,
Florescendo deserto,
Embelezando tanto,
Inspirando,
Chamando Maria pra dança,
Rindo de pássaros como criança.
E amedrontado
Pelos corações sem confiança
Minha escravidão é meu encantamento.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Menino doce
Me surpreende balas sortidas
Variadas, doces, coloridas.

Não...
Criaste amargo no beijo risonho,
Criança tristonha, aguardarei.
Encontros vivem de possibilidades cumpridas com sintonia.
Sintonia na certeza se desgasta.
Você não entende!

O que me resta de possível
É sorrir com teu caminho
Te reconhecer na tarde trabalhosa.
Te relevar na amistosa noite.
Me entristeço.
Caminhe, menino.

Te abençoarei em pureza, em pedido, em segredo.
Te sorrirei como sustento.
Te negarei como sustento.
Crescemos, homem, havemos de ser o que nos cabe.

Hei de ser mulher.
Me entristeço.
Mas só viverei ao trilhar meus dias.
Entenda.
Trilhe os teus, me iluminará qualquer fresta de tua luz.
Reapareça!
Digo que pelo tato gélido
As sombras ao fundo dos becos
Fazem o dramatismo e despedem-se.
Deixam luz cálida fugaz
Que sentem o recente
Como um ar leve quente
E canto à brisa de terra molhada
E às sementes que brotam do algodão
A canção dos amores noturnos.

sábado, 11 de setembro de 2010

“numa só gota
Vivi um oceano...
E no centro desse todo,
Mergulhei de cabeça
Até arranhar o nariz
No infinito fundo.
Ao retornar,
Num tempo sem fim,
Entre os meus extremos,
Parecia estar
Preso numa só lágrima
Que se soltou de mim.”

Truck Tumleh

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ai menino...
Sapeca, bolinha amarela pinga na ladeira
Pinga, pinga, descendo a ribanceira
Alegre e pingativa, cai na profunda poça, bolinha com meleca!
É de sangue, vixe! Nossa!

Esses borbulhos... Distantes que afloram na poça...
Seriam borbulhos de mistérios cantados ou gargalhados?
Mas minha nossa!
É a escuridão poente, que ressurgi no lilás transluzente.
Apaga-se na nota capricho massante,
Branco perene úmido em lágrimas da velha cartomante.

Lua querida, hoje o sol se criou de repente,
O seu poente escorreu, raspou o passado
Todo caído, aflito, gelado.
Sol, seu safado.

Outrora sabiam de onde vinha a virilidade dos galos no sol ardente.
Que fomentam desejos por fomentar o quente.
Voam por cima da cerca quando lhe apraz.
Fugaz paz... Fugaz paz, viril e toda fomentada.
Disseram: que nada!
Que nada pegar na enxada, sozinho engolir rabanada.

Meus dotes são outros
O João de barro conhece meus dotes, teu lote.
Meu mascote amigo que silencia o pingo da pia
Postula uma poesia concreta.
Silêncio, por favor.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Verde, amarelo, e vermelho
A haste com a bandeira
Brasileira ensangüentada
Por nada, por nada.
Pela terra molhada
O sangue infiltrado
No núcleo vermelho
O amor incondicionado

O pranto frio
O suor quente
O amor divinizado
O caminho sondado
O vestido de mil dobras
Flutuando no vasto rio urbano

Populações aterrorizadas
Populações admirando
Chove-se lama gelada
Enlameando florestas
Face de mulheres amadas
E a leveza dos ares.

Céu, de verdes estrelas
Como é bela a pureza
Como é vasta a cegueira
Dos tons desafinados dentro das gargantas
Que descem pela traquéia
Até os alvéolos.

Onde está a harmonia dos pássaros
Que jorram beleza
E despejam folhas pelos ares das montanhas?
Que encobrem os rastros de cruéis cangaceiros
Atrás de encobrirem suas dores
Infincando balas nos telencéfalos altamente desenvolvidos.
Mensurando a garantia da morte impulsiva.

Pode ser que o vento me chame ao relento
Num tempo de milagres
Onde o vento é meu rei e minha senda
Que me voa pelo mistério
Até alcançar a estrela Ponto de interrogação.
Mistério que pode até me levar ao misterioso
Mistério que pode me levar ao entediante
Mas mistério que imagino me glorificar
E me realizar no incompreensível
Ou senão me distrair na beira do abismo e me descansar
Ao lado do esqueleto... Cabelos ruivos, pedras negras.
Se me fizessem um pedido de cair no desmedido, o que fica, o que me resta? De um pranto sem canto, de um soluço sem rima, um branco, um azul, uma cor cristalina, festas que transitam distantes, os encontros que encantam, as armas transcorrem sem ponta, estonteantes, e pronto. E o ponto, simples, desaparece, rumo ao norte, e a fácil tristeza me remete, despede-se do pranto, num canto, cheio de tanto, tanto de santo.

Se soubesses da noite de hoje
Se soubesses dos sonhos lá de cima
Se sonhasses com loucos e putas
Despertos em uma chacina
Saberia que é simples o amor.

Dia todo olho pro dia
Noite toda olho pro dia
Vejo dia dia dia, não dia, você não entendeu.
Noite dia, que noite fria.

Diga noite, onde me encontro?
Sou da tribo dos malabaristas?
Sou o camarim dos palhaços de rua?
Sou a lua no dia nublado?
Sou pra cá? Aqui desse lado?

Quando vejo o raio do lampejo
Te pego e te jogo
Te chupo te beijo
Te jogo pra cima
Escalo montanhas.
Pequena mulher
Que me ama e me trai
Sou o pico das estrelas.
Sou Cult?
Vai toma no Cult!
Iogurte é gosto que me gusta.
É de morango que apaixono.
É num sono que sorrio em pranto.
E olho pra alegria
E é tanta, e leve como a manta.

Me sinto uma anta
Me sinto animal selvagem
Calo o meu rugido
Rolo na terra e a terra mastigo

Tiro poeira do meu umbigo
E digo:
Eu amo!
Pele de leão tingida de azul e negro
A mulata fingida veste em segredo
A névoa esbranquiçada já vem chegando
E outras folhas, outras navalhas, vem voando.
Um menino descansando embaixo do luar
Come fruta, vê a névoa e se paralisa.
Ahhh... Para onde vão as casas.
Ahhh... Destruídas pelas estradas.
Como pode um nevoeiro derrubar
As pedras do mundo inteiro desempedrar.
Como pode as ondas nos afogar.
Menino joga a semente para brotar.
Foge foge foge, vai transpira.
Foge foge foge, vai sufocar
Foge foge foge, vai tropeçar.
Foge foge foge, da calunia.

Nasce-se um poeta, é bonito e é um poeta!

O poeta consciente
Todo dominador da poesia
E da própria razão
Que conhecia filosofias milenares
Os valores mais nobres
E os rumos mais elevados que o destino poderia traçar
Cansou-se.

Razão, você não me serve mais!

E resolveu cantar palavras diversas
Se alegrando com os sons sem sentido
Adorou a forma como eles fluíam
E numa conversa com o vidro
Chegou a conclusões seriíssimas sobre a vida.

Deveria bisbilhotar os beija flores nos lindos bosques
Que tem mais vida e além de mais vida banquetes variados de saborosos polens.
Pois nessa presente fartura abelhas e beija-flores se saboreiam
E voam e se amam e se entrelaçam nos ares
E se beijam belissimamente no som da natureza e se picam!

O que?
É! Se picam.
Beija flor é traído
O beija cambaleia-se nos ares
Entonteado zigue-zagueia com a gravidade e tomba como numa tumba.

Corpo triste e sólido beijado na terra, abaixo de plantas floridas e zunidos homicidas, abaixo de árvores de grandes copas com grandes lúdicos troncos, abaixo de nuvens plurais em formas contempladas num lúdico céu degradê, num espaço lúdico geográfico, assim num continente existente em diversos atlas, cercado de oceanos de diversas ondas, vidas, e cores, existente em um planeta verde e azul, um sistema, uma negrez, singelamente colorida de astros, um universo cativante, escuro e misterioso...

Vocês viram um poeta por aí?

domingo, 29 de agosto de 2010

Confusão

Confusão

Confundiram os indiferentes com pacifistas
Confundiram sanidade com lucidez.
Confundiram loucura com insanidade
Confundiram tristeza com depressão
Confundiram remédio com solução
Remédio não é solução
Remédio remedia, remenda, não é solução!
E confundiram ócio com descanso no conforto, que desgraça.
Confundiram tesão com sexo
Confundiram sexo com selvageria
Confundiram arte com rotina
E confundiram a rotina com a vida!
Confundiram não com sim
Confundiram poder com opressão
Confundiram obediência com escravidão.
E confundiram escravidão com os escravos.
Confundiram o desejo com egoísmo.
E confundiram o egoísmo com um monte de coisas.
Confundiram a natureza como matéria-prima.
Confundiram a Terra com um planeta no mapa.
Confundiram o potencial com genialidade.
Confundiram os gênios como os escolhidos.
Confundiram o possível com o impossível.
E confundiram o impossível com o impossível.
Confundiram trabalho com trabalhoso.
Confundiram sentimentos com hormônios.
Confundiram pensamentos com sinapses.
Confundiram saúde com esporte.
Confundiram preguiça com contentamento.
Confundiram Deus com o diabo.
Confundiram o diabo com a paixão.
E confundiram o Amor, confundiram o Amor com carência e com o ódio mais profundo!
Matou por amor!
E confundiram o mais carente dos homens com aquele cobrador antipático.
Confundiram perdão com miséria.
Confundiram perdão com miséria.
Confundiram perdão com miséria.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu criança de encantos
Vibrando corações
Purificando ambientes
Libertando-os das sanções
Distribuo novas tonalidades às almas
Distribuo frutas saborosas à melancolia
Distribuo incensos diversos à inquietação
E uma mão criadora serena

Luz, que era branca, por luzir e reluzir
Foi-se colorindo pela desconfiança das cores
Ingenuamente deixou o branco, reluziu cada cor do espectro com até alegria
Das mais claras e límpidas até a escura como tal poluía
E em um sono tardio, o que era luz enegreceu.

Estrela oculta
De beleza em rasuras
Mesma no pico da abóboda celeste
Embelezou somente injúria
E ardeu em cada pulsar sob a aérea bruma
Como um adeus
Ardeu no ato de entrega
Ardeu à la Prometeu.

Para consolo, raridades surgem.
Um brilho acontece em um instante de sonho
Mas por ser instante, atiça só leve alegria
Alegria vazia, nada estonteante, esperança fria.

Desafios pesam nos aflitos
Dóceis e manipuladores
Insinuam outra qualquer coisa
Uma enérgica desesperança nas deidades

Criança abandonada
Procurando um coração a vibrar
Procurando um ambiente a purificar
Procurando sanções a libertar
Busca novas tonalidades nas almas
Morde frutas na melancolia
Acende gasto incenso na inquietação
Se imagina criação e sereniza.

Dorme criança, dorme, que a noite hoje se fez longa para teu descanso. Descanse.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Verdades tossidas

O conselheiro urbano
Inspira fumaça
Para profetizar soluções
A uma mentira inata

As gentis brisas frescas
Acalentam a solidão
Dos tristes sábios
Conhecedores dos céus

Beleza míope,
Onde está aquela nitidez do que se sente
Dentro dos corações moles
Que choram impacientes?

O profeta petrificado
Uiva verdades
A uma pálida lua
Estagnada no espaço

O profeta petrificado
Não sabe cantar
Nem se deliciar
Nem mesmo aprendeu a tristeza

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você é muito apressada, menina

As coisas acontecem no seu tempo.
A noite vai embora
E o sol que a um dia atrás nascera, nasce.
Então, os passarinhos acordam, se espreguiçãm e encantam a manhã, como no dia anterior.
E o galo rei, tomado de inveja, canta novamente.
E o caro senhor, homem trabalhador, desperta lentamente.
Assim a noite, assim o sol, assim os pássaros matinais, o galo rei e o caro senhor cumprem no seu tempo o que o Sábio Tempo pede para se cumprir.
Legítimos discipulos do Tempo vivem com firmamento, seguindo as ordens do movimento, seguem sem intento, mas compreendem a misteriosa mensagem do sopro.
Respire fundo!
Eu, crente em meu rosto.
Num ato de desespero
Faço caretas!
:P

Ele Me Deu Um Beijo Na Boca - Caetano Veloso

Ele Me Deu Um Beijo Na Boca Caetano Veloso
Ele me deu um beijo na boca e me disse
A vida é oca como a toca
De um bebê sem cabeça
E eu ri a beça
E ele: como uma toca de raposa bêbada
E eu disse: chega da sua conversa
De poça sem fundo
Eu sei que o mundo
É um fluxo sem leito
E e só no oco do seu peito
Que corre um rio
Mas ele concordou que a vida é boa
Embora seja apenas a coroa :
A cara é o vazio
E ele riu e riu e ria
E eu disse: Basta de filosofia
A mim me bastava que o prefeito desse um jeito
Na cidade da Bahia
Esse feito afetaria toda a gente da terra
E nós veríamos nascer uma paz quente
Os filhos da guerra fria
Seria um anticidente
Como uma rima
Desativando a trama daquela profecia
Que o Vicente me contou
Segundo a Astronomia
Que em Novembro do ano que inicia
Sete astros se alinharão em escorpião
Como só no dia da bomba de Hiroshima
E ele me olhou
De cima e disse assim pra mim
Delfim, Margareth Tatcher, Menahem Begin
Política é o fim
E a crítica que não toque na poesia
O Time Magazine quer dizer que os Rolling Stones
Já não cabem no mundo do Time Magazine
Mas eu digo (Ele disse)
Que o que já não cabe é o Time Magazine
No mundo dos Rollings Stones Forever Rockin´And Rolling
Por que forjar desprezo pelo vivos
E fomentar desejos reativos
Apaches, Punks, Existencialistas, Hippies, Beatniks
De todos os Tempos Univos
E eu disse sim, mas sim, mas não nem isso
Apenas alguns santos, se tantos, nos seus cantos
E sozinhos
Mas ele me falou: Você tá triste
Porque a tua dama te abandona
E você não resiste, Quando ela surge
Ela vem e instaura o seu cosmético caótico
Você começa olhar com olho gótico
De cristão legítimo
Mas eu sou preto, meu nego
Eu sei que isso não nega e até ativa
O velho ritmo mulato
E o leão ruge
O fato é que há um istmo
Entre meus Deus
E seus Deuses
Eu sou do clã do Djavan
Você é fã do Donato
E não nos interessa a tripe cristã
De Dilan Zimerman
E ele ainda diria mais
Mas a canção tem que acabar
E eu respondi:
O Deus que você sente é o deus dos santos:
A superfície iridescente da bola oca,
Meus deuses são cabeças de bebês sem touca
Era um momento sem medo e sem desejo
Ele me deu um beijo na boca
E eu correspondi àquele beijo
Setenta anos
E nem sequer um instante de perdão
Becos escuros infiltrados
Água suja nos ralos

Que divindade demostrará milagres?
Caminhadas lentas não emagrecem.
Uma ave escura voa.
Um negro peixe nada.

Um raio brilha do horizonte!
Entre as sobrancelhas ilumina.
Pernas bambas se ajoelham.
Peito estufado deságua.

Em um sonho lúdico
A sabedoria da noite
Desperta a reminiscência
Do mistério que permeia o momento

E acorda

Setenta anos
E nem sequer um instante de perdão
Becos sujos infiltrados
Água suja nos ralos.
As transformações mudam tonalidade.
Crueldade... eu te amo.
Meu coração te ama.
Quero seu abraço.

Pôr-do-sol
Vermelhidão que era infernal
São boxexas do menino
Acanhado nas asas maternas

Que linda você.
Que boca bonita.
Quero um beijo.
Venha cá.

Saia da beira da cama
Aqui é mais seguro.
Aqui eu te seguro.
Crueldade, é cá que a vida nos chama.

domingo, 8 de agosto de 2010

Lágrimas?

Não gosto de me demorar em caracterizações, mas vê-se um homem velho, de barba branca média, de passos leves, subir no ônibus, como de hábito, espera a sua vez de atravessar a roleta, como de hábito, o velho diz bom dia ao cobrador, como de hábito e atravessa a roleta, meio de lado , também como de hábito. Senta-se junto a janela, como nos dias de sorte, escora a cabeça no vidro e chora.

-Seria lágrimas tais dignas de um homem no auge da sapiência?
-Dignas? Só sei que são lágrimas... De perdão? De alívio? De sofrimento? De frustração? De desespero? De abandono? De alegria ou de tristeza? Não sei... Sei que são lágrimas...
-Não chores meu senhor.
-Mas esse é o destino das lágrimas, chorarem, por isso choro. Meus olhos se apertam e lágrimas rolam. São assim que elas funcionam, são lágrimas...
-Mas por que esse senhor chora?
-Não sei... Existe morte no percurso da vida, quando lágrimas são morte, quando lágrimas são medo de morte, não sei. Talvez excesso de vida também mata, talvez excesso de vida aumenta o medo da morte. Mas de tudo isso que digo, nada sei. Sei de minhas lágrimas que rolam...
-Essa vida é boa, meu senhor, acredite. Tenha fé, meu caro.
E o velho sentiu leve graça, pôs-se a olhar para a janela e ficou-se admirado com suas lágrimas no vidro intactas e encantado, com a ponta do dedo, pôs-se a desenhar um sorriso. Observou, apreciou, sorriu junto e desceu no ponto.

Cantos Devocionais

Além da rosa-dos-ventos as cigarras devotam uma canção, o cântico das murmurações. A noite acontece no momento em que escurece. As estrelas logo surgem uma a uma até alcançarem milhões. E a cheia lua brota do horizonte, brilho misterioso que atravessa o céu, traçando o seu destino.
A eternidade da bela noite é simplesmente a eternidade da bela noite, nada de místico nisso, mas tudo de eterno, tudo de belo e tudo de noite.
No quintal um latido! Forte e curto. Rugido vazio sem eternidade, sem beleza e sem noite, que eco nem se fez, e sumiu nas profundezas dos murmúrios ficando marcado apenas pelo próprio esquecimento.

Transcendência

E de muito anseio da alma, a Luz resplandeceu viva, iluminando as trevas, unificando a diversidade dos sombrios pensamentos em uma comunhão divina, que de tão serena e pura, rompeu o emaranhamento do egoísmo e transbordou-se em lágrimas de Infinita Alegria.
E o Alívio permeou toda a Natureza e a respiração de seca e rasa transformou-se em úmida... Simples e profunda...

Chuva Nostálgica

Como numa tarde fria, meu bem.
As ondas se quebram geladas.
Nos lares quentes e aconchegantes, fogão aceso, tv ligada.
Na praia, areia úmida, a chuva, o nada.

De resto... a saudade
Do sol que não quis raiar.
E a chuva que insisti em chover
E dissolver a certeza das lágrimas.

Essa chuva que chegou e anunciou a chegada do navio
O barqueiro insistia,
As malas iam sendo colocadas.
Aquele anel de lembrança só trazia a lembrança do não vivido.

Era tarde:
A chuva, o vento,
O anel, as malas,
O barqueiro, a agitação.

Rosto, cabelo gelado.
As malas iam sendo colocadas.
Anel e mãos geladas,
E um beijo de lábios também gelados.

O frio esfriava,
O vento soprava,
A chuva chovia e
O barco que deveria partir, partia

E a chuva insiste em chover...
Insiste...
Ela chove, molha, dissolve.
E insisti em chover.

Marechal José

Marechal José sobe marchando.
Marechal José canhão bombardeando.
Marechal José digna atrocidade.
Marechal José demolidor de cidade.

Marechal José de marcha estaca.
Marechal José marcha à tapa.
Marechal José animal selvagem.
Marechal José e o exército miragem.

Marechal José, o marechal alucinado.
Marechal José, o furioso determinado.
Marechal José, o inabalável.
Marechal José de emblemas inumerável.

Marechal José marcha subindo a íngreme montanha sozinho!
Sozinho o marechal José marcha subindo a íngreme montanha!
Sozinho o marechal José marcha !
Sozinho marechal José marcha!

Sozinho o marechal marcha!
Sozinho o marechal marcha!
O marechal marcha!
O marechal marcha!

Marcha!
Marcha!
Marcha!
Respira fundo...

...e o marechal... não vendo nada nos quatro horizontes...
Olha para o céu... e se vê...
Não menos que em um instante o Raio estoura
Despedaçando-o como nenhum outro mutilado.

Agora resta José
Que chora.
O José chora...
O José, esse homem, ele chora...