terça-feira, 6 de setembro de 2011

Da Vaidade dos Artistas - Nietzsche

Creio que os artistas ignoram muitas vezes o que de melhor sabem fazer porque são muito vaidosos e dirigiram sua vista para alguma coisa de mais altivo, desdenhando essas pequenas plantas que, novas, raras e belas, crescem em seu solo com real perfeição. Julgam superficialidade o que há de verdadeiramente bom em seu próprio jardim, em seu próprio vinhedo e seu amor não é da mesma ordem de sua inteligência. Aí está um músico que, mais que qualquer outro, se tornou mestre na arte de encontrar tonalidades para exprimir os sofrimentos, as opressões e as torturas da alma e também para dar voz ao muntismo desolado do animal. Niguém o iguala para conferir uma coloração de fim de outono, a felicidade indivizivelmente comovedora de um último, absolutamente último e inteiramente efêmero prazer, ele conhece o tom para essas minúcias da alma, secretas e inquietantes, em que causa e efeito parecem se separar, em que cada instante alguma coisa pode surgir do "nada". Melhor que ninguém tira o que quer do mais profundo da felicidade humana e, de alguma forma, de sua taça já vazia, onde as gotas mais amargas acabam por se confudir com as mais doces.
Ele conhece essas oscilações cansadas da alma que não sabe mais saltar nem voar, nem mesmo caminhar; tem o olhar receoso da dor escondida, da compreenção que não consola, dos adeuses sem confissões; sim, como Orfeu de todas as misérias íntimas, ele ultrapassa qualquer outro e acrescentou com isso a arte das coisas que, até aqui, pareciam inexprimíveis e mesmo indignas da arte - e que, sobretudo com palavras, só podiam ser postas em fuga e não aprendidas - mesmo todos esses elementos infinitamente pequenos de natureza anfíbia - pois na arte do infinitamente pequeno se tornou senhor. Mas não quer saber disso! Pelo contrário, seu carater prefere os grandes murais, a audaciosa pintura mural! Não percebe que seu espírito tem outro gosto e outro pendor, que preferiria se refugiar tranquilamente nos recantos de casas em ruínas:- é ali que escondido, escondido de si próprio, compõe suas verdadeiras obras-primas, que são sempre muito curtas, um simples compasso muitas vezes - então somente é superior, absolutamente grande, perfeito. - Mas ele não sabe! É demasiado vaidoso para sabê-lo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Vida

A vida são leves alívios de esperança.
Numa fria vingança num parto ela se liberta.
Que arde incerta e canta.
Que trabalha e aprende
Que num mantra chora
Que implora a dança e cansada se rende
Mas ela compreende, mas esquece.
Até a final apreensão
Tece cheia de tensão
E o sublime se comove
E nasce de repende
Sem se desculpar com a razão
E sonha, resplandece, brilha
Voa por uma ilha, sem saber do sonho que acontece.
E sem conhecer os misteriosos preservativos
Faz-se outro filho, maldita vingança. Então esfria, escurece.

Assim esmorece até sermos responsáveis crianças. (ou não)

domingo, 8 de maio de 2011

Culpa

Culpa é uma desculpa vaidosa,
Humilde sofredora maliciosa.
É um gato todo manhoso
Que só merece podre espinho,
Jamais, jamais a rosa.

Amém.

domingo, 1 de maio de 2011

É meu irmão...
Tornei-me rígido
Como o olhar cego
E a doçura das rochas.

Tuas palavras de bondade
Que seduzem
Me faz pensar(Querem te perdoar)
Penso, nego, algo em mim te perdoa. (Ou querem te ver na poça?)

Não é tuas palavras que me pensam.
Meus pensamentos não mais enfrentam.
-Que erro quer mais me convencer que existe?
-Veja por si só! Felicidade...

É... -
Digo.
Mas não
Não me convenço desses sorrisos...
As palavras eram ditas
Ditadas com rouquidão
Eram malditas palavras frias
De um engasgo sem persuasão

Cruas, nascidas do medo
Me soavam amedrontadoras
E minha indiferente vaidade
Ouvia com desprezo as palavras arrasadoras

Quantas besteira.
Agora eu via.
Intimidadoras besteiras claras.
Quanta bosta, quanta asneira.

Ouvi e não foi tão difícil assim
Eram besteiras soltas
Besteiras de adolescente
Um demente disse essas besteiras

Iluminado foi esses arrotos
Arrotos belos
Soavam como impulso da natureza
Assim a natureza bela se iluminou mais um pouco...

sábado, 2 de abril de 2011

Caso queira sua alma
Há de seguir alguns requisitos básicos
Estritamente necessários
Aos que se afundaram em mares do choro e ranger de dentes
Primeiramente
Deve-se cuspir em toda decadência a sua volta
E trilhar com altivez entre a decadência antes convivida
Vença a guerra contra todos que se colocaram como superiores
Exceto tua mãe. Tua mãe sempre será tua serviçal por obrigação, como o papel de superior na hierarquia.
Depois que despertares toda arrogância em teus inimigos
Uma arrogância defensiva, incapaz causar qualquer impacto em ti com a demagogia,
uma arrogância que tenda a loucura, a completa falsa humildade
A partir disso diga ao inimigo que todo aquele mal que ele lhe fez
Foi um bem e explique detalhadamente como você se elevou nessa guerra travada
E que agora acabou, você já se elevou, seu superior já não tem poder sobre ti,
Acabou.

domingo, 20 de março de 2011

Origem da Palavra Desejo


Segundo Marilena Chaui



"A palavra desejo tem bela origem. Deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera), significando a figura formada por um conjunto de estrelas, isto é constelações. Porque se diz dos astros, sidera é empregado como palavra de louvor—o alto—e, na teologia astral ou astrologia, é usado para indicar a influéncia dos astros sobre o destino humano, donde sideratus, siderado: atingindo ou fulminado por um astro. De sidera, vem considerare—examinar com cuidado, respeito e veneração—e desiderare—cessar de olhar (os astros), deixar de ver (os astros)...Nosso destino está inscrito e escrito nas estrelas e considerare é consultar o alto para nele encontrar o sentido e guia seguro de nossas vidas. Desiderare, ao contrário, é estar despojado desta referência, abandonar o alto ou por ele ser abandonado. Cessando de olhar para os astros, desiderium é a decisão de tomar nosso destino em nossas próprias mãos, aquilo que os gregos chamavam bóulesis. Deixando de ver os astros, porém, desiderium significa uma perda, privação do saber sobre o destino, queda na roda da fortuna incerta. O desejo chama-se, então, carência, vazio que tende para fora de si em busca de preenchimento."

(Do Texto Laços do Desejo)

Ode descontínua e remota

Ode descontínua e remota para flauta e oboé. De Ariana para Dionísio.



Canção II

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu.
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

Sobre a bela genialidade

Explicaram-me teorias psicológicas e provaram como numa equação matemática as verdades da mente humana. E com vaga curiosidade caminhei, invés de um pirulito na mão tinha idéias sobre a psique humana em meus pensamentos e pensei, pensei, pensei, até sorri e ri daquilo que pensei.
Um homem estranho com roupas estranhas com uma voz que soava estranha me olhou com um olhar estranho e me disse uma coisa estranha:
-Coração... Coração... Coração... Existe vida a nossa volta!
Me emocionei com aquela genialidade.

sábado, 19 de março de 2011

História Sufi sobre ciúmes

Um homem estava muito oprimido pelo seu sofrimento. Ele costumava orar diariamente a Deus, "Porque eu? Todos parecem ser tão felizes, porque só eu estou sofrendo tanto?" Um dia, em grande desespero, ele orou a Deus, "Você pode me dar o sofrimento de qualquer um outro e estou pronto para aceitar isso. Mas leve o meu, não posso mais suportá-lo".

Aquela noite ele teve um belo sonho, belo e muito revelador. Ele sonhou naquela noite que Deus aparecia no céu e dizia para todos, "Tragam todos os seus sofrimentos para o templo". Todos estavam cansados de sofrer – na verdade todos tinham orado alguma vez ou outra, "Estou pronto para aceitar o sofrimento de qualquer um outro, porém leve o meu sofrimento, é demais, é insuportável".

Assim todo mundo colocou seu próprio sofrimento em sacolas e levaram para o templo e todos pareciam muito felizes; o dia havia chegado, suas preces foram ouvidas. E esse homem também correu para o templo.

E então Deus falou, "Coloquem suas sacolas na parede". Todos as sacolas foram colocadas na parede e então Deus declarou: "Agora vocês podem escolher. Podem pegar qualquer sacola".

E a coisa mais surpreendente foi: que esse homem que tinha estado sempre orando, correu em direção a sua sacola antes que alguém mais pudesse escolhê-la! Ele contudo, ficou surpreso porque todo mundo correu para sua própria sacola e todos estavam contentes com a escolha. O que aconteceu? Pela primeira vez, todos viram a miséria dos outros, o sofrimento dos outros – as sacolas deles eram tão grandes, ou até mesmo maiores!

E o segundo problema era, as pessoas tinham se acostumado com os seus próprios sofrimentos. E agora escolher o sofrimento de outra pessoa - quem sabe que tipo de sofrimento estará dentro da sacola? Pra que se incomodar? Pelo menos você está familiarizado com o seu próprio sofrimento e você já está acostumado com ele, e ele é suportável. Por tantos anos você o tolerou - porque escolher o desconhecido?

E todos foram para casa felizes. Nada havia mudado, eles estavam trazendo o mesmo sofrimento de volta, mas todos estavam felizes e sorridentes e alegres porque conseguiram suas próprias sacolas de volta.

Pela manhã ele orou para Deus e disse, "Grato pelo sonho; nunca mais pedirei novamente. Tudo que você me tem dado é bom para mim, tem que ser bom para mim; eis porque você me deu isso".

terça-feira, 8 de março de 2011

Cantiga do viúvo

A noite caiu na minh'alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.
Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.

Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...
acabou.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 5 de março de 2011

Francesco Alberoni - O Erotismo

A mulher, portanto, aceita o corpo do homem pouco a pouco, gradualmente, através do amor. O homem amado, então, não é mais o animal predador que penetrou em seu corpo, que se satisfez, que dorme saciado. É como um menino que se entregou ao sono como se entregou ao amor, por efeito do seu amor. Não é mais a vítima, mas a caçadora. Sente o orgulho de Diana que lançou sua flecha e agora olha sua vítima inerte, e sente-se recompensada. Então adormece ao lado daquele corpo relaxado, inocente, que deve proteger. O corpo do homem amado não está mais separado. Ela está deitada, reclinada em seus braçoss e aspira seu hálito. Seu hálito é como o ar, indispensável. Seus odores se fundem, constituem um único odor, um único perfume. Sente o perfume penetrar pelas narinas certa de estar em paz com a vida. Tocá-lo é, então, o mesmo que tocar uma zona maravilhosa, quieta. É a certeza do contínuo, do permanente. Da eternidade.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pobre andarilho

Sou o pobre andarilho
Que caminha entre as tribos urbanas
Procurando qualquer coisa de brilho,
Qualquer compassiva alma, alma humana.

Eu que de abandono sofro,
Só encontrei um caminho:
Apertar a rosa sem alvorço
Fazendo as mãos sangrarem com os espinhos.

Se te segurei forte
É que me sinto inseguro e fraco.
Ando trilhando sem norte
Segui e suguei teus carinhos, teu aroma, teu laço.

Me perdoe, flor... Me desculpe...
Não quero ser um esquecido.
Se disse que te amo, não me culpe,
Precisava urgentemente de um amigo.

Uma vida pacata


A vida?
To levando...
To levando...
Só quero alimenta minhas cria...
Nada grande...
Quero sonha não.
Isso num é pra mim não.
Dever?
Num devo nada não.
Graças a nosso bom Deus.
Graças a Ele.

Moralismo

Pra se ser altruísta
Deve-se ser feliz.
Pois um altruísta sem felicidade,
Deus me livre do que ele pensa da verdade!

Só quem tem abundância
Pode doar a vontade à vontade.
Um altruísta de miséria
Não conheceu o amor próprio sem idade.

Primeiro odeie ou esqueça!
Aquele que com ti é indiferente
Ou o encare com violência
Ou vire a cara e desapareça.

Não faça a quem não mereça.
Você não merece.
Feche seu coração a esse abismo
E esvazie sua caneca de pobreza.

A vida é hoje! Para de ser besta!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Criança caótica

Eu adorava o caos!
A minha felicidade
Era aqueles adultos
Cheios de desespero
Sem saber por onde começar a extravar a loucura.
Era cinematográfico!

Carência

Sou carente de ser caro.
Sou carente por me sentir raro.
Vejo essa coisa de alegria fingida:
Carência inibida,
E logo fico sério
E a mim digo uma rima:
-Não mente, você não é carente.
E ouço atentamente
E vejo que a carência
Está em mim sim e está a minha frente.
A sua alegria
Que canta à toa
Que boceja com o corpo inteiro
E que finge que entende
Me alegra tanto.
Mergulhei fundo!
Disso eu sei.
Eu fui fundo.
Fui fundo...
Os mais próximos temeram onde fui.
Cegamente me aventurei nas profundidades.
E você...
Tão superficial.
Tão superficial.
Mas como é superficial.
E transborda beleza.
Que droga... Eu te amo.
Essa menina
Que vê criança traquina
Na maldade da vida
Me tira o rumo da Verdade
E me deixa assim...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu cheio de sentimentos
Tudo me encanta
Os pássaros
A estrelas
A manhã fresca
A noite que me aquieta
Teus olhos
Teus cabelos
Teu sorriso
Teu jeito de caminhar.
Sou cheio de pensamentos longínquos
Mas o momento que me é mais especial.
É quando faço cocô.
Aiii... Que gostoso!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por te idealizar
Mais que meu amor pelas idéias
Fiquei alucinado
Um autista enlouquecido, apaixonado

Que de tanto gritar
A paixão sem chão,
Idealizei-a.
Me apaixonei pela paixão

Te assustei
Com meu imbecil coração
Que me deixou sem lugar pra pisar
Sem tuas mãos pra entrelaçar

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que os românticos não falaram

Escrevo sobre coisas belas
Como um apaixonado
Contemplando o papel diante de mim
Escrevo cada palavra em seu devido lugar.

Dobro a carta com zelo
Um menino doce, ingênuo
E só a garotinha quieta percebe
O que aconteceu naquele instante.

Mas finge que nada viu.

Entrego com rapidez
Como aquele menino
Que chama pela primeira vez
A tia da escolinha de professora.

Ela desdobra meio indiferente.
Mas espero cheio de expectativa
E recebo o que esperava:
O sorriso da linda menina!

Yes! Já comi!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Farinelli il Castrato - Lascia Chio Pianga



Uma beleza óbvia nascida do absurdo
Que antes da puberdade
A vida (o pênis) foi-lhe arrancada
Em prol da arte ardida, desnuda.

Uma morte que com as vísceras canta a suprema paixão
Pela vida inexistente
Onde amor à beleza
E ódio a vida fundem-se dramaticamente.

O mais sublime dos masoquismos.
A mais densa honraria.
O acolhimento da abandonada miséria
No esplendor de uma canção divina.

É o grito de liberdade
É o sádico destino
É o berro incontestável
De uma flor

Daquela que nasceu da lástima do menino.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Andy Mckee - Commom Ground



Andy McKee (Topeka, Kansas, Estados Unidos, 4 de abril de 1979) é um compositor e guitarrista de fingerstyle percussivo.
O resto a música fala por si só.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A luz entra no quarto
O quarto esquenta
Acordo
Me pergunto
Ser preguiçoso ou não?
E sem muito esforço decido ser
E me acomodo na cama
Durmo novamente
Acordo novamente como num próximo instante
Me pergunto novamente
Ser preguiçoso ou não?
Me impulsono
Levanto
Sono não existiu
Tostex
Escovo os dentes
Roupa básica
Saio pela porta
Casa não existiu
O cão no meio da rua
Vislumbra a rocha que vai ao horizonte (rua?)
E acaricio o au-au
Dedo não existiu
Solidão
O aperto no peito
De uma vida sem leito
Um trovão

Um impulso ruído
Um cão de guarda
Na noite aguada
Chuva imbuída de razão

Um sono que me cala
Um sonho que me afaga
Um lamento que rasga
Minhas vestes toda rasgão

A tara que me sobe
O suor que me exala
A saudade que me toma
E esse silêncio ocupando meu tranjeto a um tempão.

Coisas e reconhecimento

Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas
Coisas coisas coisas
Reconhecimento reconhecimento reconhecimento
Reconhecimento reconhecimento reconhecimento
Coisas coisas coisas
Coisas reconhecimento coisas
Coisas reconhecimento coisas
Reconhecimento coisas reconhecimento
Reconhecimento coisas reconhecimento
Mas, Meu Deus, quando chegará o momento
Que reconhecerão o abismo do reconhecimento
E que uma coisa é só uma coisa e não existe tormento?
A não ser nessa coisa de querer coisas e de querer reconhecimento
Coisas e reconhecimento
Coisas e reconhecimento
Coisas e reconhecimento...